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Padre Antônio Vieira

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Entretanto, sucediam-se as vitórias na guerra com Castela, a mais importante a de Montes Claros. Afonso VI casa com Maria Francisca de Sabóia. O casamento não se consuma. D. Luísa de Gusmão morre em 1666.

A Inquisição levanta as acusações a Vieira: é culpado da defesa calorosa que fez dos cristãos novos, dos contatos que manteve na Holanda com judeus e calvinistas, de propugnar estranhas e heréticas teorias sobre um tal V Império. Vieira defende-se, embora admitindo algumas imputações, a que não dá, porém, qualquer importância quanto a atentado contra a fé católica.

D. Afonso VI é encarcerado em Sintra. O irmão, D. Pedro, é o novo regente.

A 23 de Dezembro de 1667, o tribunal do Santo Ofício dita a sentença condenatória do padre Antônio Vieira: "é privado para sempre de voz ativa e passiva e do poder de pregar, e recluso no Colégio ou Casa de sua religião, que o Santo Ofício lhe ordenar, e de onde, sem ordem sua, não sairá". Não o autorizam a ir para o estrangeiro para que não possa atacar a Inquisição. Em 1660 frei Nuno Vieira já antecipara esta sentença na frase que proferira: "é preciso mandá-lo recolher e sepultá-lo para sempre".

Permitem-lhe apenas que se instale no Noviciado da Ordem em Lisboa.

Em Março de 1668 fazem-se as pazes com Castela, derrotada pelas armas. D. Pedro casara com a que fora sua cunhada, após a anulação do matrimônio com D. Afonso VI.

A 12 de Junho de 1668 Vieira é libertado. Está, todavia, proibido de nos seus sermões tratar de assuntos relacionados com cristãos novos, profecias, V Império, Inquisição. Dez dias depois prega na Capela Real um sermão comemorativo do aniversário de Maria Francisca de Sabóia.

Já não é tão bem recebido na Corte. D. Pedro pende mais para os dominicanos. Não precisa de Antônio Vieira.

Os superiores da sua Ordem enviam-no a Roma com a incumbência de promover a canonização de 40 jesuítas presos nas Canárias e martirizados pelos protestantes em 1570. Mas Vieira vai, também, por outro motivo: quer, na Santa Sé, obter a anulação total da sentença condenatória do Santo Ofício. Foi humilhado e injustiçado. Está de novo em luta. Luta que vai vencer.

Em Setembro de 1669 embarca para Roma. Demora dois meses a chegar. Novamente a viagem foi terrível, com dois naufrágios que o levaram a parar em Alicante e Marselha.

VITÓRIA SOBRE A INQUISIÇÃO

A personalidade de Vieira, a sua energia, a sua exuberância, rapidamente conquistam a cidade italiana. Por toda a parte é recebido com admiração, carinho e respeito - a prova aí está: Cristina da Suécia convida-o para pregador (mais tarde quererá que ele seja seu confessor, convite que Vieira também vai recusar, o Brasil é o seu objetivo).

Aflige-se, na correspondência privada, com o estado de Portugal. Apesar da estrondosa vitória sobre Castela, o país não progride, não é capaz de voltar à "grandeza antiga". Previa - e acertava - que, dentro em pouco, a Inglaterra e a França ir-se-iam aproveitar da fraqueza do reino para se apossarem do melhor que Portugal ainda teria no Oriente.

Desobedecendo ao que lhe impusera a Inquisição, em Roma volta a tomar posição a favor dos cristãos novos e dos judeus em quem confia para o ressurgimento do país. E pior: ataca a própria Inquisição em cartas para os amigos (bons amigos, que não o denunciaram).

Desdobra-se em vários contatos para, na Sé apostólica, pôr em cheque os métodos inquisitoriais e envia ao Papa um memorial acerca do assunto. O farisaísmo do Santo Ofício. ("por aqui se diz que em Portugal é melhor ser inquisidor do que rei", escreve) cria uma péssima reputação a Portugal. Mas D. Pedro II está dominado pelos dominicanos do tribunal e receia-os. O Papa, porém, mostra-se receptivo. O processo de Vieira é reanalisado. Os revisores espantam-se. Como foi possível condenar quem deveria ser louvado? Terá dito Vieira: "ouviu-me quem me não entendeu e sentenciou-me quem me não ouviu".

Até que o Papa, num breve, isenta o padre Antônio Vieira "perpetuamente da jurisdição inquisitorial". Poderia pregar sobre o que quisesse e apenas estava sujeito às regras da sua Ordem. O Pontífice vai mais longe: Suspende os autos-de-fé em Portugal (suspensão que foi curta).

Durante os anos de vida em Roma o padre alcança enorme prestígio. Aprende italiano para poder pregar nessa língua. Os sermões que pronuncia em terras transalpinas são de uma excepcional qualidade literária, espiritual e filosófica. A tal ponto que o Colégio dos Cardeais lhe pede para que pregue na sua presença.

A 22 de Maio sai de Roma, a caminho de Portugal. Vencera a partida com o Santo Ofício. A partir do breve papal a Inquisição não poderá tocar-lhe.

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