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Padre Antônio Vieira

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temas muito enfatizados pela cultura barroca, tal como já sucedera com Gil Vicente, Camões ou Amador de Arrais, que tiveram no desconcerto do mundo um tópico de expressão do seu descontentamento.

Nos acesos debates para justificar a sua tese do Quinto Império. Considerou a propósito que o tempo era a chave das profecias, querendo com isso significar que em nenhum ramo do conhecimento humano o saber nos é dado de uma vez por todas. Pelo contrário, requeria-se a experiência que era filha do tempo bem como a crescente solidariedade entre os vários ramos do conhecimento, razão por que os modernos eram mais sabedores que os antigos, aceitando inclusive a célebre frase de S. Bernardo de Chartres para dizer que se considerava um anão aos ombros de um gigante, anão que nem por isso deixava de ver mais longe, atrevendo-se assim a interpretar as profecias de Daniel de modo diferente do dos antigos intérpretes. No fundo, aceitou a expressão de Giordano Bruno, ao considerar que os verdadeiros antigos eram os modernos.

Também a este processo do conhecimento aplicou as grandes metáforas da cultura barroca. De fato, a verdade em si própria era uma e una, não estando sujeita às oscilações do tempo, mas o mesmo não acontecia com os sucessivos graus de conhecimento que dela vamos possuindo em aprofundamento progressivo. A razão deste processo estava em que no fundo o mundo era uma comédia de Deus: a verdade descobre-se lentamente, num processo repleto de obscuridade, onde o final se não vislumbra logo desde o início. Nestes termos, Deus introduz no processo de conhecimento a dimensão lúdica própria do jogo, em que a cada passo o entendimento fica em estado de suspensão, e expectante do desenrolar do enredo, «encobrindo-se de indústria o fim da história, sem que se possa entender onde irá parar, senão quando já vai chegando e se descobre subitamente entre a expectação e o aplauso».

Num cômputo global, o interesse de Vieira para a filosofia em Portugal desdobra-se por áreas que vão desde a ética, a filosofia política, a antropologia e a filosofia da história, sem esquecer as questões da estética da linguagem, a que deu base teórica no seu Sermão da Sexagésima.

Vieira manipula a forma narrativa para que seu interlocutor questione a si mesmo em um trabalho lento e profundo de reflexão e introspecção.

Refletir e examinar os próprios pensamentos são dois exercícios inadequados a épocas de perseguição e violência, quando poucos, muito poucos se arriscam a pensar e, muito menos, indagar ou indagar-se publicamente. Desse trabalho Vieira não se furtou.

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