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Padre Antônio Vieira

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Aos quinze anos, segundo ele próprio escreve, após ouvir um Sermão em que o pregador evoca as penas do inferno, sente-se tocado pela vocação. Quer professar, ser jesuíta. Opõe-se o pai, com veemência. Mas a 5 de Maio de 1623 foge de casa e pede asilo aos padres da Companhia de Jesus. Cristóvão Ravasco resiste quanto pode - mas não pode contrariar a autoridade e força dos jesuítas. Cede.

Antônio Vieira redobra o seu interesse pelos estudos, passa a ser o melhor aluno em todas as disciplinas. Aos dezesseis anos encarregam-no de redigir em latim o relatório anual da província jesuíta que deverá ser enviado ao Geral da Companhia. Aos dezoito anos é nomeado professor de retórica no Colégio de Olinda.

Mas não são estes os sonhos do jovem. Mais do que para a reflexão, sente-se tocado pelo desejo de ação: quer ser pregador, missionário, apóstolo, converter os incrédulos, combater o erro e trazer para a fé católica os índios do interior.

Em princípios de 1624 os holandeses atacam a Baía, tomam-na, saqueiam a cidade, violam as mulheres indígenas. Os brancos fogem para o sertão. Os jesuítas fazem o mesmo.

E eis Antônio Vieira numa aldeia, em contato direto com os índios, aprendendo-lhes as línguas, conhecendo-lhes os costumes, admirando o modo de vida, colocando-se a seu lado para os defender de todos os vilipêndios, torturas e humilhações. Está onde sempre desejou.

Ver-se-á que esta vocação juvenil se manterá por toda a vida. Mas, durante dezenas de anos, o apelo da ação, da intervenção no mundo, sofrerá uma radical mudança de rumo.

Antônio Vieira é, no ano de 1641, um prestigiado jesuíta, pregador popular no Brasil, missionário apaixonado e amado pelos índios da aldeia do Espírito Santo. Celebra sua primeira missa em 1635, é irmão professo da sua Ordem, mestre de Teologia no Colégio de S. Salvador, lutador contra os sucessivos ataques dos holandeses às possessões portuguesas no Brasil.

A 15 de Fevereiro de 1641 chega à Baía uma caravela que traz a espantosa notícia: a 1 de Dezembro do ano anterior, D. João IV torna-se o monarca de um Portugal restaurado. Antônio Vieira regressa a Lisboa.

Aos 33 anos quando regressa à terra natal é um homem razoavelmente alto, magro e pálido, flexível e nervoso, cabelo, olhos e barba escuros, fronte ampla, lábio grosso, que irradia segurança e afabilidade.

Por essa altura, a atividade diplomática de Portugal no exterior não cessa. D. João IV envia embaixadores pela Europa para obter reconhecimento e apoios na guerra que trava contra os espanhóis.

Vieira que, pouco a pouco, se torna íntimo do rei, francamente cativado pela personalidade do jesuíta, profere alguns sermões que lhe granjeiam em Lisboa a mesma fama que alcançara no Brasil.

Em 1642, D. João IV alarmado pelas enormes despesas da guerra, decide lançar novos impostos. Levanta-se enorme querela: as classes populares exigem que a nobreza e o clero contribuam em igual proporção. A discussão era acalorada e o problema parecia não se resolver. Lembra-se o rei da capacidade oratória de Vieira. Convida-o a proferir um sermão em que o padre abordasse a questão dos tributos. Antônio profere uma notável prédica, um dos sermões de Santo Antônio, na Igreja das Chagas de Lisboa. Nele desenvolve uma brilhante teoria sobre os impostos e apazigua o conflito.

Desse momento em diante, o filho de Cristóvão Ravasco estará por detrás das decisões reais. A sua vasta cultura permite-lhe opinar sobre tudo.

Andava a guerra com Espanha por maus caminhos, envolta em contradições estratégicas.

O rei nomeia-o pregador régio. O jesuíta torna-se o seu homem de confiança.

Não tardará muito que o padre gize para Portugal um plano de recuperação económica. Era urgente o desenvolvimento do comércio. Há que isentar de impostos os bens móveis dos comerciantes; há que fundar um banco comercial e duas companhias comerciais, tal como já tinham feito os holandeses; há que abrir o comércio às nações neutrais ou amigas; há que agraciar os comerciantes com títulos de nobreza, entre outras medidas, avançadas para o tempo português

Mas a principal proposta, que lhe vai valer ódios, era a de se abolirem as distinções entre cristãos velhos e cristãos novos e de atraírem a Portugal os capitais dos judeus fugidos do país. Para tal, teria de se reformar a Inquisição.

Esta teoria mercantilista de instalação de um sistema econômico baseado na burguesia capitalista agrada ao rei. Mas é combatida pela nobreza, receosa da perda de privilégios e pelas duas ordens religiosas mais importantes. Os dominicanos jamais aceitariam a aproximação aos hebreus - perderiam as suas principais vítimas nas prisões inquisitoriais.

Os próprios jesuítas vão opor-se a Vieira. Primeiro porque ele obtivera, por si só, o valimento do rei, sem nisso envolver a congregação; depois porque as teorias do padre, a serem confirmadas pelos seus confrades, concitariam o furor da Inquisição contra a ordem de Inácio de Loyola. Ordenam-lhe, em 1644, que regresse ao Brasil. O rei impede que a ordem se cumpra. Ameaçam-no com a expulsão, o que seria colocá-lo nas mãos do Santo Ofício. De novo, o rei se opõe e oferece a Vieira um bispado. Recusa-o. Ele é, diz, um humilde membro da Companhia de Jesus e assim quer morrer. Por um momento, para não desagradar ao monarca a Companhia suspende a expulsão.

A Inquisição, porém, vai segui-lo, obstinadamente, até o apanhar.

Antônio Vieira continuará a defender os cristãos novos, no púlpito, em memoriais que entrega ao rei. O seu plano económico teve de ser minimizado: apenas se constituiu a Companhia de Comércio do Brasil

Em Lisboa, os muitos inimigos de Vieira conspiram contra ele junto ao rei . Aparentemente, porém, as relações entre D. João IV e Vieira mantém-se inalteráveis. Até que, em Novembro de 1651, D. Teodósio, de quem o padre era preceptor, resolve, sem conhecimento nem autorização do pai, fazer uma incursão pelo Alentejo para tomar contacto com a guerra que ali se encarniça. Atribui-se a Vieira a instigação de tal atitude. E D. João IV afasta-o, delicadamente, do seu convívio.

É o momento que a Companhia de Jesus espera: em Novembro de 1652 ordena-lhe que regresse ao Brasil, como missionário no Maranhão.

Desta vez, o rei nada faz para contrariar a sua partida.

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