Viver bem

Heloisa Ferreira da Costa

Somos espíritos tendo uma vida material, não existe céu nem inferno nos esperando.

Tenho observado a vida das pessoas que me rodeiam e a minha própria e me pergunto: afinal, o que é viver bem? Por um longo tempo tive a impressão de que uma boa vida deveria estar acompanhada de sucesso profissional, financeiro, saúde, um físico agradável e a constituição de uma família. Agora já não tenho mais certeza se estes conceitos são a premissa de um estado de felicidade. É muito difícil encontrar tudo isto em um único indivíduo – às vezes as pessoas têm uma família bem constituída mas o lado financeiro e profissional anda confuso, o que acaba comprometendo o bom funcionamento do relacionamento; outras vezes a pessoa tem uma excelente condição financeira mas está em busca de algo que nem sabe definir o que seja, e assim vamos todos vivendo infelizes, porque a verdade é que todos os nossos padrões de um estado de felicidade estão relacionados à matéria pura e simplesmente.

No entanto, chega um tempo na vida de todos, seja ela boa ou não, com os itens preenchidos ou não, em que sempre vai parecer faltar alguma coisa, e o que seria isto se não o que foi traçado para ser feito e que ainda não o foi porque nos esquecemos de nossas obrigações espirituais? Quando encarnamos, toda nossa memória é apagada para nossa própria segurança, mas era para haver trabalho em direção aos objetivos traçados anteriormente. Porém, o envolvimento da matéria é muito grande e infelizmente o que vem sacudir o espírito para os seus deveres é o sofrimento. Por que não procuramos o esclarecimento nos dias de paz? Acredito que o ser humano precisa de provas físicas de uma vida que não é física, e aí reside a primeira dificuldade: como correr atrás de um objetivo que não se vê? Nesse momento entra a religião. Pelo medo de um castigo divino e por uma proteção eficiente, a pessoa procura praticar boas ações, uma esmolinha aqui, um dízimo ali, e assim vai comprando, com suaves prestações, seu lugarzinho no céu. Mas qual a idéia de céu? Um lugar cercado de anjos e querubins, com uma música monótona, sem comida, sem bebida, sem nada para fazer, vestidos com uma bata branca e sem graça, e a aparência física nesse outro plano? Será mantida a da fase da morte ou vai retornar a da mocidade? E a pessoa que sempre foi feia será feia eternamente ou vai ganhar um novo rosto pelo bem praticado? Matéria de novo! É para isto que todos estão aqui, para querer este tipo de vida? Se bem conhecemos o gênero humano, muitos vão preferir o inferno. Pelo menos a insegurança vai gerar uma certa adrenalina, que vai tornar a vida emocionante de alguma forma.

Tudo isto é uma grande besteira! Somos espíritos tendo uma vida material, não existe céu nem inferno nos esperando do outro lado. Temos que procurar ser bons para nosso próprio bem, pelo crescimento. Mas se o for para alcançar graças divinas, é melhor não ser nada. Estamos todos viajando através de milhares de anos, vivendo em diferentes lugares, diferentes situações, para evoluir como partículas de luz, e o nosso presente foi criado por nós mesmos em algum lugar do passado; quanto ao futuro, estamos construindo-o hoje, só que poucos sabem disso e ficam aí perambulando atrás de ilusões. Mas todos teremos o nosso tempo de chegar ao esclarecimento, disso não tenho dúvida..

A insegurança da vida, a busca do bem viver tem que estar acompanhada da busca espiritual, seja ela qual for, se não dentro desta Doutrina, em outra, que preencha os requisitos da fase evolutiva de cada ser, mas viver bem, independente da orientação espiritual, tem que ser de dentro para fora, temos que estar bem conosco para encontrar o que nos falta, porque não há como aproveitar a vida quando estamos infelizes internamente. Portanto, tudo começa e termina no conhecimento de Força e Matéria, todo o resto está ali servindo apenas para ser utilizado em prol da evolução, e deve ser muito triste, ao término de um viver, constatarmos que tudo que foi prometido a nós mesmos, que tudo que foi planejado à custa de muitos sacrifícios, deixou de ser feito, e aí só restará ao espírito encher-se de coragem e começar tudo outra vez, em certos casos de uma forma muito mais difícil do que a anterior.

Heloisa Ferreira da Costa é militante da Filial de Marília, SP.

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