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O silêncio

Maria Cottas

O silêncio que tantas vezes nos pede o espírito para descansar a mente agitada e febril nem sempre é completo, mesmo no mais profundo ermo. Porque cessam o barulho e movimento, mas a mente não pára de pensar, de rememorar coisas que intranqüilizam, perturbando, portanto, aquele silêncio que procuramos e de que precisamos para acalmar o espírito. Resta em nós a voz interior, perguntando e respondendo com argumentos muitas vezes irrespondíveis e que ficam na consciência de cada um como uma enorme interrogação que embaralha o pensamento e afasta o silêncio pelo tumulto em que se debate.
- Por que não reina harmonia entre os homens? Por que se guardam ressentimentos que martelam a mente quando, às vezes, por breves palavras, se poria um ponto final em dores que, ao contrário, se cultivam e se tornam cada dia mais difíceis de se suportar?
Hoje está uma manhã chuvosa e feia. Isoladamente em meu gabinete, ouvindo o tique-taque ritmado do relógio, na intenção de fugir um pouco do formigueiro da vida, medito e escrevo para acalmar a nostalgia que, às vezes, sinto e que nem sei explicar. São estados d'alma a que todos estão sujeitos pelas muitas preocupações que a vida nos traz.
Não adianta que nosso corpo descanse numa poltrona macia, em atitude de repouso completo, de relaxamento total, se nosso pensamento fervilha e um mundo de fatos passa como um longa metragem de filme verdadeiro. É a vida, ela mesma, que ficou registrada de forma indelével na mente que se desenrola e apresenta com seus anseios e frustrações.
Quer-se paz, mas não se a encontra. Chove lá fora e dentro de nós as nuvens não se descarregam. Ainda se pudéssemos chorar como chora a natureza! Mas não, nem isso. As lágrimas têm que ficar escondidas atrás das pálpebras pela inibição e pela inutilidade de correrem. Quem dera viesse o sol e clareasse o nosso espírito modificando os fatos, e a ventura de novo nos batesse à porta!
- Quem sabe se um dia a aurora se levantará no horizonte fechado da nossa alma e, então, diremos: "Como a vida vale a pena ser vivida. Como todos se entendem, todos se amam e se esforçam por uma ventura comum!" Estarão, então, amortecidos os ódios e a paz reinará, enfim, entre os homens.

(Do livro Crônicas oportunas)


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