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O prazer nas refeições

José Rodrigues da Silva

Talvez, nada seja tão prejudicial a uma boa digestão do que assentar-se uma pessoa à mesa e servir-se perturbadamente do prato e do talher para uma refeição, sem levar em conta a grande importância de aliar-se um pensamento justo e equilibrado a uma boa alimentação, que não provém da ingestão de iguarias caras e sofisticadas, mas da sadia disposição do espírito. Não resta a menor dúvida de que a harmonia mental, no momento da refeição, influi poderosamente na digestão, a ponto de levar o ser humano a estar sempre bem disposto, bem humorado, alegre no trato com outras pessoas, porque cada garfada de alimento promove naturalmente degeneração ou regeneração orgânica, conforme for a disposição mental de quem a ingerir.

A refeição apressada, precipitada, parece ser, em nossos dias, a senha dos funcionários de empresas onde os negócios de 50 anos têm de ser realizados, com grandes resultados, em 20 ou em até dez anos. Na verdade dos fatos, essa pressa apresenta dois pontos de vista antagônicos: do ponto de vista positivo, reduz o tempo para a realização do negócio; do ponto de vista negativo, reduz o tempo de vida, em virtude de muitos males orgânicos originados de uma má digestão. Então, vale a pena levar para o almoço ou para o jantar as preocupações da lida diária? Ou ter uma refeição animada, que não ocasione desarranjos orgânicos? As dificuldades de qualquer negócio devem ser resolvidas no gabinete ou no escritório, portanto longe da mesa de refeições.

Quando nos deparamos com um olhar alegre, cheio de vigor mental, é sinal de estar esse olhar num ser humano que, na mesa de refeições, nunca se deixa envolver em ansiedades, em pressentimentos de infelicidades, em inquietações com isto ou com aquilo. As pessoas sempre alegres, para as quais não existe tempo ruim, sabem absorver os alimentos num bom estado de espírito e, por isso, seus organismos assimilam bem tudo quanto elas ingerem, certamente por gostar de ingerir. Com muita naturalidade, essas pessoas fazem de cada prato um motivo de festa. Não se importando se estão sós ou acompanhadas, elas vivem numa íntima relação com a verdadeira arte de comer e, portanto, comem, gostosamente, as iguarias de suas preferências em quantidade exata, como também no momento preciso.

Os problemas, os desassossegos, a raiva, o ódio e tudo mais que se caracteriza como perturbação mental não devem ir para uma mesa de refeições, porque, certamente, estando o espírito assediado por tais sentimentos sinistros, as más conseqüências não se farão esperar nos órgãos encarregados da digestão. Para trabalhar bem e bem produzir, o homem precisa estar totalmente disposto de corpo de espírito, e essa boa disposição não ocorre por acaso; só mesmo quando se cumprem normalmente todas as imperiosas regras das leis da saúde, não envenenando o corpo com iguarias prejudiciais nem envenenando a alma com sentimentos desarmoniosos, ocasionadores do mau humor.

Um bom estado de espírito durante as refeições é o princípio fundamental da saúde do organismo humano e a saúde desse organismo é o prolongamento da vida física. Todas as pessoas devem ter em conta ser muito mais fácil conservar a saúde através de hábitos salutares do que curar uma doença contraída pela falta de cuidado nas atitudes físicas e mentais. Conforme se observa e se deduz das obras editadas pelo Racionalismo Cristão, todo ser humano é um espírito encarnado neste mundo para lutar tanto quanto possível contra as infrações às leis naturais e ter condições de, energicamente, avançar cada vez mais na escalada do sucesso para felicidade própria, do seu semelhante e da coletividade.

Quem não usa os mais claros e racionais critérios nas refeições, infringe evidentemente as leis da saúde do corpo, correndo o risco de não ficar em perfeito estado de bem cumprir seus deveres, por não realizar tudo de que seria capaz se transpirasse vitalidade por todos os poros. Se o homem é o que são os seus pensamentos, pode-se também dizer sem medo de errar que o homem é o que é a sua alimentação, incluindo aqui o método, a ordem e a disciplina adotados na sua ingestão. Portanto, se é importante a qualidade do que se come, muito importante também é o modo de comer, a fim de que o homem tenha uma saúde robusta e possa apresentar intensidade, rapidez, perseverança e firmeza no cumprimento de todas as suas obrigações.

A vida moderna é mais complicada e mais pesada do que a antiga, certamente porque a atual civilização se afasta muito da simplicidade de outrora, pelo progresso alcançado. Então, a luta do dia-a-dia exige do homem considerável reserva de energias físicas e anímicas, para ele não ser impiedosamente arrastado por desequilíbrios emocionais como acontece com os descuidados. E uma boa refeição muito o ajuda, inclusive, a conservar o prolongamento da vida.

 

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