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Alexander Fleming e a descoberta da penicilina

Lília Rodrigues Paiva

Numa tarde úmida de setembro de 1928, o bacteriologista escocês Alexander Fleming estava trabalhando no seu laboratório do Hospital de Santa Maria, em Londres. Estava escrevendo um artigo sobre o Estafilococo – uma bactéria vulgar que cria pus em abscessos e furúnculos infecciosos. Esperava encontrar a cura para esses problemas, bem como para várias outras doenças infecciosas, que muitas vezes eram fatais.

A bancada do laboratório estava cheia de pratos rasos de vidro onde se desenvolviam as bactérias. Fleming reparou, de repente, que um estranho fungo verde estava se desenvolvendo num prato que tinha sido deixado de lado durante algum tempo. Parecia ter afetado as bactérias que o rodeavam, que, em vez de formarem a massa habitual, tinham se transformado no que pareciam ser gotas de orvalho. Em suma, o misterioso fungo parecia estar dissolvendo as bactérias.

"Olhe isto", disse Fleming a um colega. "É interessante. Pode muito bem vir a ser uma coisa importante!" O outro concordou, e Fleming colocou o prato contaminado de lado, para examiná-lo mais tarde. No momento, tudo o que sabia era que algum tipo de esporo estranho tinha entrado no laboratório – provavelmente pela janela aberta do segundo andar – e tinha se depositado no prato de cultura.

Cedo na manhã seguinte, o cientista, então com 47 anos, começou a tentar identificar o enigmático fungo. Examinou um fragmento ao microscópio e verificou que estava coberto de manchas verdes, típicas de um fungo que mais tarde foi identificado como Penicillium notatum (do latim penicillus, ou ‘escova’), que tinha o aspecto de una escova. Fleming derivou daí a palavra penicilina.

Durante os dias seguintes, dedicou-se a testar o novo fungo. Guardou-o num frasco que continha um caldo, um fluido nutriente, do qual esperava que se alimentasse, e aguardou para ver se o fungo cresceria no fluido. Realmente desenvolveu-se sob a forma de uma massa à superfície, e o fluido apareceu tingido de amarelo. Descobriu-se que o pigmento amarelo era uma impureza que nada tinha a ver com a penicilina.

Fleming descobriu que o fungo libertara gotículas de secreção amarela no caldo e que esta destruía a bactéria tão eficazmente como o próprio fungo. Depois, diluiu a penicilina mil vezes e verificou que ela ainda eliminava diversos micróbios infecciosos, incluindo os que provocavam a difteria, a pneumonia, os furúnculos, as dores de garganta e a gonorréia.

O passo seguinte foi testar a toxidade da penicilina em coelhos saudáveis e ratos brancos e, claro, em seres humanos. Os animais sobreviveram aos testes clínicos, e Fleming usou um dos seus assistentes, Stuart Craddock, como cobaia. Craddock comeu um pouco do fungo sem sentir qualquer efeito nocivo. Tempos depois, Fleming curou-o de uma sinusite, usando a penicilina.

Fleming contou suas descobertas a Almroth Wright, chefe do Departamento de Vacinação do Hospital de Santa Maria, que lhe deu toda a ajuda possível o que, em termos de equipamento e condições de trabalho, não representava muito. Fleming continuou no seu laboratório atulhado, e os seus assistentes, Craddock e Frederick Ridley, trabalhavam num corredor estreito e mal iluminado, onde havia uma pia na qual enfermeiras guardavam amostras de urina.

A equipe depressa descobriu que, apesar da sua considerável potência, a capacidade da penicilina para destruir micróbios só durava alguns dias antes de o fungo degenerar a massa estática, ineficaz. e glutinosa. Por conseguinte, a tarefa principal era tentar estabilizar o novo e efêmero ‘remédio milagroso’, como fora denominado. Esse fato e a necessidade de testar outros fungos para ver se produziam os mesmos efeitos que a penicilina foram os dois objetivos imediatos de Fleming.

Durante algum tempo, Fleming resolveu o problema da obtenção de outras variedades de fungos pedindo a amigos e colegas botas de jardim, velhas e enlameadas, que não quisessem, ou sapatos bolorentos que já não usassem.

Durante esse período, preparava um artigo sobre o assunto para o Medical Research Club (Clube de Pesquisas Médicas) de Londres e, em fevereiro de 1929, leu-o para uma vasta audiência. Mas sua maneira seca e monótona de falar não despertou o interesse dos cientistas. O relatório que publicou foi também friamente recebido, mas Alexander Fleming, convencido de que a penicilina podia salvar vidas humanas, recusou-se a desistir do seu trabalho.

Durante a década de 1930, Fleming continuou a cultivar fungos para obter uma vacina contra a gripe, que estava sendo desenvolvida sob sua orientação, e enviava amostras de penicilina a investigadores de todo o mundo, que a utilizavam para isolar bactérias em experiências semelhantes às dele. Mas foi somente na primavera de 1940 que a certeza de Fleming no poder de cura da penicilina foi confirmada por dois cientistas de Oxford. A partir daí, o mundo reconheceu que o escocês Alexander Fleming descobriu o primeiro antibiótico mundial, a penicilina, e abriu caminho para uma revolução na Medicina. Dessa época para cá foram ampliando-se os horizontes em termos de descobertas de antibióticos derivados da penicilina e muitos outros de amplo espectro, combatendo as mais variadas doenças.

A farmacologia e a medicina andam paralelas, sempre de mãos dadas, dependendo sempre uma da outra, no sentido de salvar vidas, levando o medicamento até onde for necessário prevenir, curar ou estabilizar doenças.

Palavras de Alexander Fleming: "Fui acusado de ter inventado a penicilina, mas jamais alguém o poderia ter feito. A Natureza fabrica-a há milhares de anos. Eu me limitei apenas a descobri-la."

Para elaboração deste artigo foram pesquisadas fontes do Reader's Digest.

A autora é presidente da Filial de Belo Horizonte, MG


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