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Por que e para que a Doutrina ?

Henrique Siqueira

1. A procura de respostas é inerente à natureza humana, porque somos caracterizados pela capacidade de nos interrogar sobre o mundo e sobre nós próprios. Mas, quantas vezes essa necessidade de busca ultrapassa as exigências da vida por nós vivida e, até mesmo, os limites do que pode ter resposta.

"O incompreensível seduz e também pode inquietar – a compreensão e o conhecimento proporcionam prazer a oferecem orientação".

2. A capacidade de perguntar e a busca de êxito na resposta são ilustradas pela conhecida imagem do discípulo que pergunta ao mestre "de onde vem o universo?", "de onde vem a vida?", "de onde vem o espírito?", e do mestre que responde, perguntando ao discípulo: "de onde vem a tua pergunta?" O nosso intelecto alonga-se entre o "donde" e o "para onde". Ambicionamos identificar a "fonte" e a "foz", e acompanhar, explicando, o percurso feito entre elas. Mas a capacidade da mente impede-nos satisfazer a ambição da identidade e do trajeto pretendidos, permitindo-nos apenas uma visão panorâmica parcial do que buscamos encontrar e entender, limitando-nos sempre à consecução do objetivo.

"Embora a mente possa avançar até um certo ponto, ela fica sempre sem atingir a meta extrema que se encontra sob o domínio de valores absolutos".

3. De fato, a grande questão com que nos deparamos é, sem dúvida, o fundamento da existência do Universo – Universo Espiritual e Universo Físico – e, com ela, a da potencialidade da resposta em nós disponível. Essa resposta escapa à nossa condição humana, como vamos ver.

4. Heráclito (544 - 448 aC), pensador jônico, disse que a natureza gosta de ocultar-se de tal maneira que o paradoxo consiste em que quanto mais aumenta o nosso conhecimento nesse domínio mais se agiganta a nossa ignorância.

5. O ser humano encontra grande dificuldade em identificar objetivamente a totalidade (a unidade) por nós idealizada como Universo.

Na verdade pensar, ao menos, o Universo Físico não é algo evidente, ou seja, conceber o Universo Físico como totalidade das experiências e de todos os objetos da experiência é uma representação que nunca poderemos recolher na experiência. Como afirmou Kant (1724-1804), o mundo como totalidade é uma idéia da qual, no entanto, nunca poderemos fazer experiências (acerca dessa idéia).

Não obstante a opinião expressa por aquele filósofo, certo é que, hoje em dia, existe a cosmologia das ciências da natureza em cujo âmbito o Universo Físico se tornou objeto de descrições das ciências da natureza.

Mas podemos questionar ser essa totalidade (caracterizada como sendo o Universo Físico) – aceitável para efeito das nossas investigações e conclusões sobre ela – de fato, idêntica à totalidade constituída por tudo aquilo físico que existe no Universo.

6. Em síntese, dizemos que, embora as conhecidas e antes referidas limitações inerentes ao ser humano, ele dispõe, contudo, da capacidade de pôr questões sobre a totalidade, sobre o Todo. Mas é indispensável sabermos – dispormos da clarividência de – que colocamos aquelas questões como seres humanos. Não podemos esquecer, assim, que abordamos questões relativas ao Todo, no quadro e no âmbito das nossas próprias limitações, da "miopia" interior a nós inerente.

7. Grandes matemáticos, como Borel, Pascal e Fermat, podem dar-nos perspectivas úteis sobre a nossa capacidade de tornar o Universo inteligível à nossa compreensão.

Borel (1871-1956) afirmou que, quaisquer que sejam os progressos e os conhecimentos humanos, haverá sempre lugar para a ignorância.

A probabilidade terá surgido com a carta, de 29 de julho de 1654, escrita por Pascal (16231662) a Fermat (1601-1665), como medida da nossa ignorância quanto à ocorrência de fenômenos aleatórios. A física quântica (século XX) acrescentou à probabilidade a capacidade de exprimir a indeterminação parcial da própria natureza e do seu comportamento aberto, no quadro do entendimento humano, agora disponível.

8. De tudo o que antes dissemos resulta, inequivocamente, que perdem tempo os que se preocupam em demasia com a definição integral do problema do Universo, tendo em vista abranger a sua concepção total, porque somente a Inteligência Universal é detentora de tão completo saber, que pertence, como já referimos, ao domínio do Absoluto. Salientamos, vivamente, que Inteligência Universal não é Deus. Não tem nexo pretender relacioná-los, muito menos correlacioná-los.

Para Nicolau de Cusa (1401-1464), quanto melhor alguém souber que nada pode saber, tanto mais conhecimentos terá.

9. Antes de chegar aos problemas máximos do Universo, a criatura apenas precisa adquirir os conhecimentos necessários à sua evolução espiritual, esforçando-se por aprender as inumeráveis lições que ainda não absorveu e que precedem, de muito, aquelas que envolvem a abrangência do Universo.

O que a respeito do Universo Físico a inteligência humana já pode compreender vem sendo revelado pela ciência que se ocupa de tais concepções e dos conhecimentos delas resultantes.

10. Mais importante para cada pessoa – na sua qualidade de ser humano –, sem prejuízo da investigação e do conhecimento das abordagens filosóficas e científicas acerca do Universo Físico, a ela acessível, é dispor de uma interpretação do Universo que tenha conseqüências concretamente úteis para a validação da maneira como se deve comportar perante as coisas e os outros seres vivos, nomeadamente o seu semelhante.

Meyer-Abich, físico e filósofo, professor universitário de Filosofia da Natureza, esclarece-nos que uma teoria física, quer seja a do Big Bang, quer seja outra, não tem qualquer influência sobre a forma como devemos tratar, por exemplo, uma árvore, na sua qualidade de ser vivo. Muito menos nos esclarece sobre a maneira como tratar o nosso semelhante, acrescentamos nós.

11. Essas circunstâncias descritas induzem uma situação de conforto entre o sujeito do saber sobre o mundo exterior e o Ser residente no seu mundo interior.

Desse confronto resulta um vazio a separar aqueles dois mundos, que retira ao Ser a sua natureza unitária e cria no Ser a necessidade de preenchimento daquele vácuo, a fim de objetivar a sua unidade perdida.

É precisamente aqui, quando o ser humano se quer encontrar unitariamente no Todo, que surge o Racionalismo Cristão como resposta de Valor, como doutrina espiritualista e espiritualizadora, dando-nos a oportunidade, se convictamente procurada, de nos conscientizarmos da nossa grandeza, elucidando-nos simultaneamente quanto à pequenez dessa grandeza, perante a grandiosidade da Inteligência Universal e a imensidão do Universo – Universo Espiritual e Universo Físico.

12. Nestas circunstâncias, no confronto entre o Ser e o saber, o Racionalismo Cristão é a doutrina esclarecedora das questões antes formuladas, porque proporciona a cada indivíduo identificar-se como ser humano. Permite-lhe, deste modo, entender por que é inexcedivelmente maior a capacidade humana de perguntar do que a de responder, ao proporcionar-lhe adquirir o sentido e o valor da Vida, posicionando o ser humano no Universo e perante este.

13. Tendo em conta tudo o que foi dito, a cosmogonia (origem do Universo Físico) e a cosmologia (descrição do Universo Físico) estão fora do âmbito do Racionalismo Cristão. Ele parte da evidência de que existe o Universo – Universo Espiritual e Universo Físico –, constituído por Força e Matéria (ponderada e imponderada ou astral), disponível no ser humano (espírito encarnado num corpo físico – o corpo humano – através do corpo astral), a quem se dirige como doutrina emanada do Astral Superior, explanando os Princípios que o ser humano deve prosseguir na sua qualidade de "cidadão do Universo"; habitante temporário do planeta Terra, aqui imigrante, sendo esta o mundo escola da evolução do espírito associado a cada ser humano nela residente.

Para Bernardino Telésio (1509-1588), o mundo natural (aquele que está diante de nós, integrando, designadamente, árvores, plantas, animais, pessoas) é constituído por força (que anima, penetra, move, transforma continuamente a matéria) e matéria (que é inerte por si mesma e preenche o espaço que existe antes da matéria.

14. A existência do espírito pertence à visão interior do ser humano, ao seu mundo interior, enquanto, por exemplo, a noção de tempo, no planeta Terra, se situa no nosso mundo exterior, onde se revela útil, embora sem significado na abordagem universal.

A natureza e caracterização do espírito são apresentadas pelo Racionalismo Cristão como partícula de Luz, imaterial, eterna e indestrutível, inteligente, partícula Força dotada de livre-arbítrio.

O conhecimento obtido no âmbito da visão interior do ser humano não pode, pela sua natureza intrínseca, ser fundamentado na ciência. Esta ocupa-se, no essencial, do mundo exterior.

O posicionamento do ser humano perante si mesmo e perante o Todo não pertence, pois, no geral, ao foro da ciência.

O Universo Espiritual é constituído pelos universos espirituais ou mundos espirituais (mundos de estágio, caracterizados pelos graus de evolução dos espíritos neles residentes). O Universo Físico é o conjunto dos universos físicos (das galáxias) ou mundos físicos.

15. Essencial é sabermos que pertencemos ao Universo e nele estamos em permanência, agora habitando o planeta Terra, enquanto seres humanos, a fim de o nosso espírito evoluir, para o que se torna irrelevante conhecermos a origem do Universo ou sabermos por que existe, nomeadamente, a sua componente Universo Físico.

Se evoluirmos espiritualmente de modo a libertarmo-nos da lei da reencarnação na Terra – uma das leis comuns, naturais e imutáveis que regem o Universo – e quanto mais evoluirmos no decurso de reencarnações sobre reencarnações neste planeta, conquistando adequadas espiritualidade e intelectualidade, tudo saberemos, ao conquistarmos o Absoluto da Perfeição, participando, deste modo, da Inteligência Universal.

16. No contexto que temos vindo a desenvolver, o Racionalismo Cristão é importante para o ser humano por explanar, no respeito pelo livre-arbítrio de cada indivíduo, Princípios emanados da Inteligência Universal, o Grande Foco, orientadores da evolução do espírito, que será conseguida pela prática efetiva e permanente dos mesmos, conducente ao Progresso continuado da espiritualidade e intelectualidade, no decurso da correspondente trajetória evolutiva, feita ao longo das reencarnações, na Terra, de cada espírito.

Esta a síntese do fundamento de onde o Racionalismo Cristão recebe a natureza da "doutrina do Astral Superior", Doutrina, para o ser humano, útil – sem o exclusivo da Verdade – a todos que convictamente se determinem no cumprimento dos deveres inerentes à cidadania universal e universalista que caracteriza o ser humano, adotando comportamentos adequados (conformados com os Princípios) no decurso da presença no Planeta Terra. Deveres esses sem quaisquer outros direitos compensatórios, fora do acréscimo da clarividência na satisfação da responsabilidade lucidamente consciente do cumprimento desses mesmos deveres. Tais direitos são legitimados pelas leis que regem o Universo.

O Livro da Vida é, portanto, escrito por cada um de nós (gravando no espírito, de onde a nossa vida emana, os trajetos feitos na espiritualidade e intelectualidade, ao longo das sucessivas reencarnações) e para cada um de nós. Será lido pela nossa consciência e por ela interpretado na medida em que conseguirmos iluminá-lo com o brilho – a diafaneidade conquistada pela Luz irradiativa –do espírito.

O autor é da Filial de Lisboa - Portugal

 

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