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A palmada educa, mas se aplicada na ocasião certa

Marida Lipp

Os pais e mães de hoje, que viveram com intensidade a liberação dos costumes nos anos 60 e 70, estão tendo dificuldade em educar seus filhos. Muitos deles simplesmente não sabem se devem disciplinar as crianças. Não sabem quando dizer não, ou mesmo se devem fazê-lo. Isso ocorre porque associam autoritarismo a educação. Só que disciplina é fundamental na criação dos filhos e, em alguns casos, pode-se e deve-se recorrer às tradicionais palmadas como meio de educar.

O problema é mais grave do que parece. Para que a criança aprenda a viver em sociedade, ela necessita que os pais lhe mostrem os limites, as fronteiras entre o certo e o errado. Quando eles não o fazem, a criança se torna instável e insegura. Esse comportamento frouxo não faz com que ela ame os pais. Ao contrário, ela os amará menos, porque começará a perceber que eles não lhe deram estrutura, se sentirá menos segura, menos protegida para a vida.

Muitos pais até tentam delimitar as ações dos filhos, mas ficam com sentimento de culpa quando proíbem algo. Essa atitude ambígua dos pais tem contribuído para provocar o estresse infantil e pode ser o ponto de partida para a desestruturação familiar. Na verdade, pessoas que não deixam claro para seus filhos o que eles podem ou não fazer estão deixando de cumprir o papel de pais.

O castigo físico é visto com preconceito. É claro que a crueldade e a palmada a torto e a direito devem ser evitadas. Mas quando a criança começa a engatinhar ou andar e passa a mexer em tudo, uma palmada na mão será mais eficiente do que repetir mil vezes a mesma advertência. O recurso do castigo físico deve ser usado raramente. Quando a vida do pequeno está em risco, por exemplo. Se a criança está aprendendo a atravessar a rua e insiste em cruzá-la sem respeitar o sinal, ela deverá receber uma palmada. Esse comportamento dos pais tem que ser sistemático, para fazer sentido. Ele não traz prejuízo algum para a criança. Não vai estressá-la nem traumatizá-la, vai mantê-la viva. O que não pode é os pais dependerem da disciplina física para educar a criança.

Precisamos entender que temos as rédeas nas mãos, que controlamos tudo na vida da criança e devemos impor um sistema de disciplina ligado ao seu comportamento. Por exemplo: se a criança não fez o dever de casa, não poderá ver televisão. Se desobedeceu ou foi malcriada, não sairá por uma semana. Mas a criança não deve ser punida na primeira vez que comete um erro. Antes disso, os pais devem explicar por que determinado comportamento é errado e alertá-la sobre as conseqüências de seus atos e as possíveis punições. A insegurança dos pais nesse assunto pode levar a situações bastante perigosas. Tive uma cliente cuja filha, uma menina de 12 anos, namorava um garoto de 15. A intimidade entre os dois era tanta que ela já estava achando o comportamento do garoto um pouco excessivo. Mas a garota não conseguia nem tinha idéia de como dizer não. Não havia aprendido com os pais qual era o limite. Os pais, por seu lado, estavam incomodados, mas não interferiam, apesar de ter conhecimento de que o rapaz usava drogas. Até que a mãe, aflita, decidiu buscar a minha ajuda. Ela questionava o direito de proibir o relacionamento dos dois. Uma de suas dúvidas era: "Será que eu posso determinar de quem minha filha vai gostar?" Respondi que ela tinha o direito de proibir o namoro, porque a menina ainda não sabia proteger-se. Algum tempo depois, quando a garota voltou ao meu consultório, me disse: "Foi um alívio meus pais terem me proibido de sair com ele porque eu não estava sabendo como resolver essa situação." Conclusão: a menina, ainda imatura, precisava de limites.

A criança não nasce sabendo; o único meio que tem de aprender o que é certo ou errado é por intermédio dos pais. Se não a ensinamos, ela poderá desenvolver um comportamento estranho como forma de pedir socorro. Criança manhosa e agitada pode estar agindo assim para chamar nossa atenção para seus problemas.

Enfim, os pais precisam dosar a liberdade que dão aos filhos. Essa liberdade deve depender da habilidade que a criança tenha para lidar com responsabilidades. Quando os pais deixam de punir convenientemente os filhos, muitas vezes pensam que estão sendo liberais. Mas, a única coisa que eles estão sendo é irresponsáveis. (Revista Veja, maio/1996).

A autora é doutora em Psicologia


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