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O valor de uma conquista

Maria Helena Vieira

Como o Racionalismo Cristão nos mostra, o valor, além de ser a qualidade marcante na personalidade humana, é também o atributo que funciona como estímulo para a criatura que se dedica intensamente a um determinado estudo ou até mesmo a uma profissão que exija desempenho físico ou mental. Porém, para o espírito que tem um objetivo a alcançar, não importa saber naquele momento qual o mais importante. O que importa é, após longas jornadas de muita dedicação e empenho, provar a si mesmo que o resultado final correspondeu aos esforços empregados.
Podemos citar como exemplos de exercícios físicos o jogador de futebol. Sua maratona diária junto com a equipe; todos do grupo ao mesmo tempo fazendo os mesmos exercícios, variando apenas na intensidade, pois esta é individual. Cada qual no próprio ritmo, embora para todos que ali estão os objetivos sejam os mesmos. Porém, só na hora da partida é que o seu esforço se efetivará, se materializará em forma de gol ou mais gols. Nessa hora é que cada criatura poderá avaliar a intensidade dos seus esforços. Para o jogador, só mesmo com o gol poderá ele ter a certeza de que atingiu seu objetivo. Nesse momento ele coloca diante de todos o grau do seu valor, naquele momento avalia se os seus esforços foram bem empregados.
Da mesma forma numa Olimpíada. O atleta, através de exercícios físicos intensos e diários, luta para a conquista do seu bem maior, ganhar uma medalha. Esse é o maior estímulo do atleta: poder voltar para o seu país com uma medalha. Porém, só na hora "H" é que ele poderá materializar a intensidade de seus esforços. Cada uma das três medalhas, ouro, prata e bronze, terá um peso. Todo o seu trabalho se resumirá ali, naqueles exatos segundos ou minutos, ali o atleta poderá medir o grau de dedicação e empenho de todo o seu trabalho. Podendo, inclusive, não levar medalha alguma.
Da mesma forma o aluno que vai à escola. O seu objetivo maior é concluir o seu curso, porém, antes, terá que fazer uma maratona, ou seja, esforçar-se, estudar para tirar boas notas, para em seguida conseguir um outro objetivo que é o da formação profissional. O aluno se utiliza mais do esforço mental. Ele precisará estudar muito, não apenas uma matéria, mas várias disciplinas específicas que correspondem ao seu grau evolutivo no sentido intelectual. Para isso, o aluno terá que se concentrar, terá que abdicar, muitas vezes, de finais de semana ou de lazer com a família. Precisa estudar durante longas horas durante meses, anos. Precisa estudar, muitas vezes, matérias com as quais não tem a menor afinidade e que por isso representam esforço redobrado em relação às outras, que estuda com mais prazer.
Porém, como em qualquer profissão, todos têm objetivos a serem alcançados no final: o jogador, o gol; o atleta, a medalha; outro profissional, provar a si mesmo ou a quem lhe paga o salário sua competência.
E para o estudante? Qual o objetivo maior do aluno? O seu estímulo maior é a prova, sua nota mensal, final. Só através das notas o aluno poderá medir seu real valor. Esse é o estímulo maior do estudante. Através das notas será materializado seu esforço, a intensidade do seu estudo. Quando se retira do estudante a importância da avaliação, quando o aluno precisa somente de uma determinada freqüência para passar de uma série a outra, perde o estímulo de estudar para tirar boas notas. Assim, fica fácil deduzir que, quando se retira o objetivo principal de um ser humano, a atividade perde seu valor. O aluno fica sem estímulo, sem um objetivo a atingir, e com isso vêm o desânimo, a falta de interesse e o abandono da escola.
Fica fácil deduzir por que o "sistema" retira, extingue o principal critério de avaliar o aluno. Sem meios que possibilitem uma avaliação, o aluno perde o interesse. Esforçar-me para quê, se no atual "Sistema Continuado", esse adotado pelas escolas atualmente, todos passam para a série seguinte, estudando ou não? Dessa forma fica fácil poder avaliar quem tem ou não valor: o aluno, a escola ou o sistema.
Quando se retira o estímulo, o principal objetivo do aluno, o critério que era o determinante capaz de medir a sua capacidade, é como se os clubes retirassem do futebol o gol, como critério de avaliação, como se a olimpíada retirasse as medalhas dos atletas. Sem o gol e sem as medalhas, o esforço, o desempenho desses jogadores, atletas seria o mesmo?
Esse é o mal que acomete os alunos no atual sistema escolar brasileiro. Se o sistema escolar brasileiro funcionasse plenamente, maior número de estudantes permaneceria na escola e se esforçaria para passar de ano normalmente pelo seu próprio valor, até que concluísse a escolaridade obrigatória.
Na realidade, não é assim que ocorre. Além do abandono da escola por muitos alunos, outras crianças nem têm acesso à escola. E aquelas que iniciam o 1° Grau e são levadas adiante, quando avaliadas em qualquer série, são reprovadas no seu valor intelectual; assim, 80% não teriam chance de chegar ao final do curso.
Essa situação não é coerente. Precisamos urgentemente repensar a tratar desse mal. É preciso modificar a escola, os sistemas. E um dos elementos que podem contribuir para essa mudança é a volta da "avaliação" do aluno. O seu retorno deverá representar o efeito e nunca a causa. Esse é o estímulo, é o antídoto que está faltando para iniciar o processo de cura do nosso Sistema Escolar Brasileiro. É através deste que o aluno terá autodomínio, segurança, satisfação e valor.
Porém, sabemos que o aluno que já tem valores internalizados no âmago do seu ser, no espírito, não precisa de avaliação materializada para provar nada a ninguém. Essa é por si notória, através de seu semblante, que irradia segurança e determinação. Vê-se através da suas ações, através do cumprimento de seus deveres como aluno, que realiza todas as suas obrigações. Ele cria seu estímulo, se esforça, luta pela conquista do seu bem maior, independentemente do que a escola ou qualquer sistema possa dele exigir. O espírito valoroso, consciente ou inconscientemente, naturalmente põe à prova seu valor a todo momento, em qualquer instância da sua vida, sem se importar se os outros fazem ou não a sua parte.

(A autora, pedagoga, é militante da Casa Chefe.)


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