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O exemplo

Maria Cottas

Não é a razão que governa o mundo, mas o sentimento. A idéia não tem poder algum sobre as almas, enquanto não se transforma em sentimento. A razão pode inspirar as naturezas superiores, mas, enquanto ela não acha o caminho da sensibilidade, os seus raciocínios e conclusões em nada influem. Isso sucede em maior grau com as mulheres mais sensíveis e mais impressionáveis.
Mulheres e crianças, é pelo sentimento, pelas imagens habilmente evocadas, que elevam, educam e conduzem.
O exemplo é o melhor instrumento de educação. Por quê? Porque desde a infância a criança segue-o, inconsciente ainda, e mais tarde, embora mude de meio e este seja o contrário daquele em que viveu, sente uma repulsa natural pelo que não é certo, e as noções recebidas na infância, cuja ação era já grande e eficaz, transformadas em instinto, continuam a exercer sobre ela a sua ação benéfica.
A criança que nunca viu senão maus exemplos, que nunca ouviu senão más palavras, que respirou, desde que nasceu, um ar empestado de maus costumes não pode escapar ao contágio de todo esse mal. Quem lhe ensinou o bem, se ninguém lhe revelou? Se ninguém lhe mostrou uma só virtude? Se entre vícios cresceu e se formou?
Que importa que a mãe ou a educadora provem à filha ou discípula, com argumentos eloqüentíssimos, que este ou aquele defeito deve ser corrigido, que é um "pecado mortal", segundo o "catecismo", ela ter esses defeitos e os demonstrar?
A criança, acostumada a ver a sua mãe praticar aquilo que diz ser grave defeito e "pecado", acha que não é tanto assim porque senão a genitora não os cometeria, e o que a mãe faz ela também pode fazer.
E daí o vermos os filhos, de ambos os sexos, com os mesmos defeitos e vícios dos pais. Hereditariamente inevitável? Não! Nunca devemos deixar transparecer, diante dos nossos filhos, que, a nosso ver, é incorrigível qualquer defeito de caráter ou de natureza, oriundo de seus pais ou avós.
A obra de civilização, se a contemplarmos no seu conjunto, é comovente. Nela constatamos a luta secular do homem contra a animalidade da qual provém e à qual tende sempre a descer, pois mais depressa se aprende e imita o mal do que o bem e a virtude.
Por isso, essa obra de incessante aperfeiçoamento espiritual deve ser universal, e a sua ação moralizadora, enérgica e tenaz. A filosofia coroa-a com as suas palavras mais belas. A ciência sanciona-a como a solução do problema mais árduo imposto ao homem, mas o que é certo é que essa solução só a mulher pode dar, com o seu fino tato, aliado à noção do dever de educadora.

Do livro Folhas esparsas


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