Caracteres irascíveis
Maria Cottas
São criaturas antipáticas e aborrecidas as que possuem um caráter irascível, porque não proporcionam alegria nem prazer, antes tristeza e pesar aos que com elas convivem. E o interessante é que tais criaturas supõem que suas vítimas têm obrigação de submeter-se, sem queixas, aos seus maus tratos. Sentem-se até ofendidas quando alguém se mostra sentido com suas injúrias.
Dizem coisas indesculpáveis a uma amiga, ferem pessoas de sua família com palavras cruéis e menos delicadas, e ainda se consideram desobrigadas, alegando que não o fizeram por mal.
É certo, porém, que ninguém se convence com essa desculpa, porque todos sabemos que a cólera, como o vinho, desmascara os pensamentos; os doestos, as coisas desagradáveis que nos dizem os irascíveis, quando perdem o domínio de si mesmos, são expansões de sentimentos inferiores, de inveja e desejos de vingança, que, por prudência ou medo, evitaram, até então, revelar, mas que um momento de descuido deixa a descoberto.
É difícil compreender por que tais criaturas se consideram privilegiadas, a tal ponto de se permitirem magoar, sem consideração, a sensibilidade de seu semelhante e julgarem-se ainda credoras de carinho, apreço e respeito de todos.
Os maridos que se enfurecem com suas esposas e lhes dirigem epítetos com que não se atreveriam a insultar outro homem consideram-se vítimas de uma tremenda injustiça se elas, em represália, os tratam com frieza, sem confiança e até com medo. As esposas coléricas derramam copiosas lágrimas porque seus maridos fogem do lar que elas transformaram num inferno, graças ao seu temperamento irascível.
Homens e mulheres, em geral, muitas vezes vítimas de explosões contínuas de mau gênio, não compreendem por que não conseguem conservar-se empregados nem triunfar em nenhuma empresa.
Os que não têm domínio sobre si mesmos nunca compreenderão que não há nada que mate mais rapidamente o amor do que a irascibilidade, que se torna também um obstáculo insuperável para o êxito, porque é natural que evitemos instintivamente aqueles que sabemos nos vão ferir ou humilhar.
É necessário tratar tais criaturas com cuidado e muito tato, para evitar o despertar do mau gênio apenas adormecido.
Sejam quais forem as boas qualidades que possuam, nenhuma delas, nem o conjunto, compensarão o defeito da irascibilidade. A respeito de um esposo irascível, li, há tempos, o que se segue:
"Como pode viver uma mulher com um homem cujo mau caráter envenena a vida de todos que o rodeiam? Estou casada com um homem que se entrega ao esporte favorito de maltratar sua mãe e a mim.
Quanto mais nos dedicamos a ele e procuramos agradar-lhe, pior se torna para conosco. Nada do que fazemos o satisfaz e nos dirige palavras tão ásperas, que nos deixa abatidas e doloridas.
Estou cansada, e há muito tempo que deixei de amá-lo, e até de tolerá-lo. Sigo ao seu lado por meus filhos, pois não quero que eles sofram as conseqüências do meu erro em casar-me com um homem semelhante."
A irascibilidade não só revolta, como faz desaparecer o afeto e o carinho daqueles com quem se vive e a quem se deve muito, como uma mãe ou uma esposa.
Maria Cottas, do livro Folhas esparsas
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