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O que é inteligência? Poderia ela ser expressa em números?

Juarez Moura

Alfred Binet, renomado psicólogo francês, admitia que a inteligência não era apenas uma coisa; do contrário, ter-lhe-ia sido muito fácil criar um teste. Certa feita, quando estava refletindo sobre a natureza da inteligência, Binet mencionou os atributos da retidão, compreensão e capacidade, que, segundo julgava, podem variar algo independentemente de uma para outra. Mas, normalmente, ele estava por demais ocupado com seus objetivos práticos para alongar-se sobre hipóteses.
Contudo, o bom senso insiste numa concepção múltipla de inteligência. Algumas pessoas são hábeis com palavras; outras, com números; algumas, com imaginação espacial; outras, com lembrança visual ou auditiva; algumas, com raciocínio dedutivo; outras, com inferência indutiva etc. Esperamos que algumas pessoas tenham amplos talentos e outras sejam limitadamente talentosas e outras, ainda, sejam destituídas de qualquer talento. E a também conhecida e discutida, hoje, inteligência emocional? O psicólogo e PhD Daniel Goleman, partindo de casos do cotidiano, mostra como a incapacidade de lidar com as próprias emoções pode destruir vidas, acabar com carreiras promissoras. Ao mesmo tempo, esclarece de que modo se pode atuar diretamente sobre a inteligência emocional para que problemas assim sejam evitados.
A medição da inteligência se impôs à consciência do público americano durante a Primeira Guerra Mundial, quando quase 2 milhões de soldados foram submetidos a testes pelo exército e classificados como "alfa" e "beta", respectivamente, para alfabetização e não alfabetização. O efeito duradouro daquela inovação não tem sido surpresa ao se saber que o soldado americano tinha uma inteligência igual à de um rapaz de 13 anos, ou que os oficiais de artilharia eram consideravelmente mais espertos que os oficiais médicos, ou quaisquer outras das miríades de curiosidades estatísticas.
Mesmo que esses fatos ainda sejam tão verdadeiros quanto o eram em 1919, o efeito duradouro tem sido o simples uso dos testes e sua consideração séria por parte de pessoas responsáveis. Isso porque os testes de inteligência e os testes de aptidão correlatos não têm tornado cada vez mais o instrumento da sociedade para a seleção de recursos humanos. Não só para os militares, mas também para as escolas, das secundárias às profissionais, para a indústria e o serviço público, os testes objetivos têm provocado a erosão dos motivos tradicionais para a seleção: família, classe social e, o mais importante, dinheiro.
O grande público ainda identifica, fundamentalmente, os testes psicológicos com os testes de inteligência. Isso se deve ao rápido crescimento e à ampla aplicação de testes coletivos de inteligência depois da Primeira Guerra Mundial. Além disso, esses testes são, muitas vezes, descritos imprecisamente como "Testes de QI". No entanto, o termo é incorreto. O QI (Quociente de Inteligência) não se refere a um tipo de teste, mas sim a uma forma padronizada de interpretação de resultados de determinados testes psicológicos. Os testes de inteligência são, pois, representativos de apenas um dentre os muitos tipos de testes psicológicos atualmente disponíveis. Apesar de toda fomentação, ainda não se tinha certeza de que algo útil estava em preparo. Havia entusiasmo e energia em abundância, mas ainda não existiam testes, incontestavelmente, bons. Foi preciso o trabalho de Binet para tornar prático o teste de inteligência.
Num artigo importante, escrito em 1895, Binet e seu colaborador, Victor Henri, defendiam o teste mental baseado não só nas funções sensoriais e motoras, como também nos processos psicológicos que se acreditava estarem compreendidos na inteligência.
Em lugar de supor que ser esperto é o resultado de sensos aguçados ou reações rápidas, Binet afirmava que a inteligência opera em seu próprio nível e que, portanto, um teste apropriado deve empenhar a pessoa naquele mesmo nível. Quanto ao que tal teste poderia ser, Binet, como todo mundo, em 1895, estava apenas adivinhando. O artigo sugeria uma variedade: testes de memória; imagens mentais, imaginação, atenção, compreensão mecânica e verbal, sugestionabilidade, apreciação estética, sensibilidade moral, capacidade de manter esforço muscular e apreciação visual de distância.
Binet inventou o moderno teste de inteligência sem dizer o que é inteligência. Em princípio, ele estava tentando separar os mentalmente defeituosos. Mais tarde, estava procurando classificar todas as crianças: defeituosas, medianas ou superiores.
Alguma noção empírica de inteligência espreitava no fundo - tendo a ver com vivacidade, compreensão e rapidez - mas ele não foi obrigado a defender uma noção abstrata para inculcar a idéia do seu teste ao mundo. Em lugar disso, podia mostrar como o seu teste funcionava bem.
Raramente, uma criança considerada pelos adultos que a cercavam como inteligente se saía mal e, raramente, uma criança que saía mal no teste parecia, em outras circunstâncias, inteligente. Vez por outra, uma criança que saía pior do que o esperado no teste, porque um professor confundira obediência com inteligência, ou melhor do que o esperado quando se tomara, erradamente, rebeldia por estupidez, mas, em geral, a maioria das crianças ia até onde se esperava que fossem. O valor do teste é que ele dava uma avaliação objetiva de uma criança, em mais ou menos, uma hora e qualquer técnico treinado podia aplicá-lo. Tendo o teste como medida, as crianças podiam ser relacionadas a um padrão comum a ser diretamente comparadas, com qualquer finalidade.
Mas é a inteligência, realmente, um atributo - como altura - que possa ser expresso num simples número? Mesmo supondo que o QI seja apenas uma medida de posição relativa, pode esta ser dada num simples número? No próximo artigo discutiremos o que é QI.

(O autor é freqüentador da Filial Belo Horizonte, MG)


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