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Dias melhores, após as agruras

Heloísa Ferreira da Costa

Comecei a trabalhar como professora universitária em 1986. Entrei como estagiária em uma faculdade particular de Odontologia. No mesmo ano me aconselharam a desistir, porque seria impossível minha contratação. Persisti e, em outubro de 1987, fui contratada como professora assistente. Em muito pouco tempo já era responsável pela disciplina, e assim segui adiante sempre me dedicando com muito afinco àquilo que mais amo fazer.
Cheguei a chefe de departamento, chefe clínico e finalmente ao cargo de vice-diretora. Eu sabia que era arriscado aceitar o encargo, mas a minha garra e vontade de levar aquela escola ao sucesso, já que foi ali que conclui minha graduação, me faziam esquecer todos os riscos e partir para a luta com a certeza da vitória.
Infelizmente, após dois anos no cargo, a avaliação dos alunos não foi a esperada pela instituição, e alguém tinha que ser responsabilizado. Quando o time perde, o técnico é trocado, no caso, o diretor. No dia 20 de dezembro de 2001, após 15 anos, fui comunicada da minha dispensa. Meu mundo, tudo aquilo pelo qual eu lutara, havia sido destruído. Parecia que nada mais fazia sentido, acreditava que jamais voltaria a ministrar aulas, a lidar com alunos, a ensinar, e temia a situação financeira futura.
Em meados de 2002, tirei férias e recarreguei um pouco as energias ao lado de pessoas queridas, que muito me apoiaram. Quando voltei havia muitos rumores, julgamentos de minhas atitudes, palavras que eu não havia dito eram postas em minha boca por indivíduos que antes eram meus amigos, mas agora me magoavam, talvez sem querer, não sei, mas foi sofrido.
Eu estava fazendo doutorado desde 1997 e o prazo para defesa da tese estava se expirando, porque sempre tive que administrar o trabalho com o estudo e a pesquisa. Com o apoio do meu orientador, que me incentivava, valorizando minhas qualidades, fui me reerguendo, aquela opinião, sim, me importava.
Dediquei-me o máximo e esqueci as misérias morais que me rodeavam. No dia 18 de junho de 2002, defendi minha tese e me tornei doutora em Reabilitação Oral pela USP de Ribeirão Preto. Na véspera, quando estava me preparando para a defesa, recebi um telefonema do coordenador de outra faculdade de Odontologia, que ficara sabendo que eu estava disponível e me convidava para ser responsável por uma disciplina. Foram dias de glória, após tanto sofrimento eu me sentia valorizada e produtiva outra vez. Como Fênix, que renasceu das cinzas, eu voltava a voar.
Em agosto de 2002, eu reiniciava minha carreira universitária, aos 42 anos, doutora, sendo recebida muito bem em um ambiente maravilhoso de trabalho. Conheci pessoas fantásticas, emagreci dez quilos, porque encontrei tempo para cuidar de mim e continuo feliz, mesmo que alguns acontecimentos não tenham tido o desfecho esperado.
Aprendi a esperar o mundo girar, sei que coisas ruins podem transformar-se em boas e vice-versa, dependendo da lição que precisamos ter para o aperfeiçoamento espiritual. Faço com muito amor o que mais gosto: sou professora. Viajo toda semana para cumprir meu horário, mas, a cada quilômetro eu me sinto mais viva, alegre, meus alunos me respeitam e tenho absoluta certeza de que estou exatamente onde deveria estar. Não devemos julgar precocemente os fatos antes do término do ciclo, porque toda a felicidade que sinto hoje é conseqüência daquele fragmento que tanto me machucou, mas que se não tivesse acontecido esta nova fase também não aconteceria.
É claro que não deixei de ter problemas pessoais, profissionais, emocionais, mas hoje minha visão de tudo é muito diferente, em primeiro lugar está o meu bem-estar, faço exercícios físicos regularmente, sigo a disciplina racionalista cristã, uma escola de princípios espiritualistas, e não deixo de esperar sempre por dias melhores, mesmo quando os piores me são apresentados. Continuo tendo o mesmo padrão de vida, mas com mais qualidade, respeito meus verdadeiros amigos e lamento por aqueles que não o souberam ser. E sei que, quando tudo está perdido, ainda resta o coração, mas somente podemos encontrar o caminho de volta quando esquecemos as mágoas, os sofrimentos e andamos para frente sem olhar para trás.

A autora é militante da Filial Marília, SP


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