O despertar do leitor
Gilda Meirelles
Muito pouco ou nada poderá ser feito com medidas grandiosas ou de impacto.
Falar em literatura é falar, a priori, da existência do escritor e, em contrapartida, do leitor.
Em primeiro lugar, analisemos o escritor, o autor da obra, aquele que faz da linguagem escrita a sua mais forte forma de expressão. Um estudioso das palavras e das multi-relações existentes entre elas. Aquele ser de expressão criadora desenvolvida, que analisa, critica, relata ou documenta seu tempo e sua época. Aquele que é capaz de lidar com o imaginário e com o real numa relação lúdica e de prazer.
Agora, analisemos o leitor: aquele que busca conhecimento ou diversão pelo ato de ler. O indivíduo que faz da leitura uma fonte permanente de experiências, que tem no livro um valor de vida e dele e nele desfruta o prazer.
Sim – o prazer, o interesse, o sentir-se bem, o gostar de... são inerentes ao processo da escrita e da leitura. Portanto, pressupõe-se que o leitor seja aquele que sente prazer em ler; pressupõe- se que o escritor seja aquele que sente prazer em escrever.
Este prazer de onde vem... Como nasce... Alguma teoria é capaz de estabelecer seus princípios... Existe uma técnica pare montá-lo... Ou uma fórmula pare criá-lo?...
Não creio?!
Creio sim – este prazer é inerente à natureza humana; nascemos e permanecemos predispostos a ele.
Então, por que é tão decantado o baixo índice de gostar de ler, de fazer do livro um hábito... de ser leitor?
É evidente que temos de levar em conta o problema do analfabetismo (em termos percentuais, alarmante, e em termos reais, degradante). Mas e os alfabetizados (gostaria de definir como alfabetizados aqueles de leitura crítica, expressiva e interpretativa e, não apenas meros decifradores de códigos) como ficam? Também, em maioria, encontram-se distantes.
Há um outro aspecto relevante que é o fator econômico, a defasagem entre o custo do livro e o poder aquisitivo da população. Mas aqui também existe um número considerável que "passa pela peneira". Estes, em maioria, estão alienados.
Onde encontraremos os culpados? Todos somos culpados. Enquanto cada um de nós não retomar a vida e passar a lidar com ela a partir do mais simples, do mais puro, do mais natural. Muito pouco ou nada poderá ser feito com medidas grandiosas ou de impacto.
E, nesse processo do ler e escrever, qual o mais simples, o mais natural, o mais puro?
A resposta está na infância, o terreno fértil e permeável do tempo da humanidade. Portanto, é nela que o prazer precisa brotar: o livro-brinquedo, o livro-objeto, o livro-instrumento, o livro-ferramenta, o livro-jogo, o livro-diversão, o livro-relação afetiva, o livro-fonte de prazer – gera a criação e a formação de um leitor.
A isca para que isso se dê está no ato e no efeito de contar histórias. A sabedoria dos nossos antepassados, das nossas raízes, da nossa cultura.
Gilda Meirelles é professora e escritora.
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