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Desilusão

Maria Cottas

Quantas vezes estamos acompanhados e nos sentimos sozinhos, tão sós, que nos apetece somente a solidão... Serão céticos os que sentem esse vazio, essa ausência de algo que nem eles mesmos sabem explicar, essa nostalgia que os leva ao isolamento e à meditação?...

Será fobia, ou desequilíbrio mental? Não! É desilusão! Uma desilusão causa tão profunda mágoa, tão grande decepção, que leva a criatura a sentir esse cruel vazio, essa ausência de algo a que aspira, mas não conseguiu possuir.

Quase sempre aqueles que possuem uma grande elevação de sentimentos procuram penetrar o enigma da vida, esmerilhando o que ela encerra de bom e de mau, e se encontram de repente a sós, tão sós que, para conseguir viver entre os demais, afivelam a máscara da hipocrisia e, no palco da vida, representam admiravelmente o seu papel.

Espíritos equilibrados e inteligentes não se deixam levar pelos seus impulsos; nem põem de lado as considerações morais, tão necessárias à estabilidade da sociedade.

Reconhecem que pretenderam realizar um sonho impossível e erraram ao iniciar a sua vida, mas nem por isso deixam de possuir um ânimo forte e uma vontade educada.

O mundo está em guerra com a moral e os bons sentimentos, inclusive o amor, palavra que, de tão mal empregada, custa-nos pronunciar quando queremos traduzir esse forte e profundo sentimento que tão inesperada e imperiosamente se apodera da nossa alma.

Enquanto houver lábios mentirosos a distribuir beijos venenosos, a pronunciar palavras que não sentem, as criaturas terão de sentir essa solidão, essa nostalgia, que revela um estado de alma bastante sofredor.

A vida é uma farsa ridícula que deve provocar um riso irônico de seus comediantes.

Quantas vezes encontramos criaturas inteligentes, possuidoras de um espírito culto, usando palavras escolhidas com elegância, e nos sentimos atraídos pela simpatia que emana das suas atitudes. Devemos procurar distinguir, porém, entre a aparência e a realidade, e compreender que a emoção pessoal deforma a realidade e cria a aparência, tanto assim que os nossos sentimentos pessoais influem em nossa maneira de julgar.

Mas os tempos mudarão, quem sabe? Esse horrível cataclismo que assola presentemente a Europa, trará talvez uma modificação aos sentimentos humanos.

E então os homens e as mulheres serão menos egoístas, porque terão a alma caldeada pelo sofrimento e pela dor. Serão mais sensíveis e mais espiritualizados, embora resignados.

E talvez não se sintam tão sós as criaturas, porque a vida lhes proporcionará novos recursos de que lançarão mão, suavizando o seu viver.

Do livro Folhas esparsas


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