A convicção e a fé
Antonio Cristovam Monteiro
Convicção e fé são palavras cuja conceituação se diversifica nos meios científico-religiosos. Até há os que a elas emprestam a condição de sinônimas, o que significa a mesma coisa. Todavia, elas têm sentido bem definido, próprio. Fé é um sentimento radical, dogmático, obsessivo, alheio ao raciocínio. A criatura apega-se fanaticamente a uma concepção errônea, faz dela idéia fixa que perturba, por completo, o entendimento. Disso tiram partido os espertalhões que, inescrupulosamente, abusam da credulidade dos incautos para o ganho fácil e sórdido. É corrente na crença popular que, seja verdadeiro ou falso o objeto da fé, os resultados obtidos serão os mesmos. Tanto faz uma entidade como objeto inanimado, animais e tantos outros símbolos, por mais absurdos que sejam, porque chegam ao mesmo resultado.
Já a convicção ingressa no terreno científico, analisando os fatos e as coisas através do raciocínio, pesando os prós e os contras, fiel a uma lógica consciente conduzida pela observação e experimentação, norteada pela Lei da Causa e Efeito. E o direcionamento desses estudos focalizou um dos assuntos mais palpitantes, no campo das ciências médicas, investigando como funciona a mente, estudo que teve como expoente máximo Sigmund Freud, médico psiquiatra austríaco que formulou as bases da psicanálise, muito embora haja polêmica quando trata da libido (instinto sexual). Foi, então, a mente desdobrada em dois compartimentos, chamados o primeiro mente objetiva ou consciente e o outro, mente subjetiva ou inconsciente. Pela mente consciente temos a percepção voluntária direta dos fatos, das coisas, do que vai à nossa volta e até onde o nosso entendimento alcance, isto através dos nossos cinco sentidos: visão, audição, tato, olfato e paladar.
O segundo compartimento da mente, subjetiva ou inconsciente, é o reservatório da memória, onde se armazenam todos os pensamentos ou lembranças. Dessa forma, no trato da vida diária são carreados e depositados no inconsciente todos os acontecimentos e conhecimentos colhidos no meio ambiente, no exterior. São acumulados pensamentos, lembranças boas e más. Portanto, tem o ser o livre-arbítrio de pescar no subconsciente os pensamentos, as lembranças boas ou más. Da capacidade do esclarecimento racional, e sujeito à lei da atração, tem ele a escolha de direcionar a sua conduta para o bem ou para o mal. Nessa ordem de coisas, afirmou o notável pensador norte-americano Waldo Emerson que o homem é o que ele pensa. Jesus Cristo dera maior ênfase ao tema, afirmando: "Assim como pensares serás". Sábio ensinamento inteligentemente introduzido pelo nosso mestre Luiz de Mattos no Racionalismo Cristão.
Assim, com o advento da psicanálise, caiu definitivamente a concepção de gênios, portentos e predestinados que, antes, se supunha fossem dotados de poderes paranormais e supernormais, pois que se atribuía a isso produto do criativo pensamento. Evidenciado então ficou não ser o talento a habilidade, a capacidade e sim resultado de uma boa utilização do manancial de idéias, lembranças acumuladas no inconsciente. Na realidade, pois, o espírito nada cria, apenas lança mão dos conhecimentos, lembranças contidas nas profundezas do inconsciente. Por aí vemos que aquele que, embora não tenha grande reserva de conhecimento, adquire fama, celebridade nas atividades a que se entrega, e outros que guardam grande soma de conhecimento não ultrapassam a mediocridade. Aqueles com método, disciplina e esclarecimento fazem boa escolha, bom uso dos seus pensamentos; esses últimos, dispersivos, perdem-se no emaranhado da profusão dos seus conhecimentos não conseguindo, assim, selecioná-los em seu proveito.
Portanto, abandonou-se a idéia de criatividade pela de capacidade de utilização dos pensamentos. Evidente é em tudo isso que o maior ou menor brilho da inspiração, na atividade de cada qual, entra também como ingrediente o grau de sensibilidade do temperamento ditado por influências orgânicas.
Ninguém tem o dom da adivinhação. Einstein, por exemplo, não teria chegado a formular a Teoria da Relatividade, sem longos e exaustivos estudos da matemática; por isso ninguém chega a discorrer de assunto, matéria de que nunca teve aprendizado e vai por aí afora... John Loke, notável filósofo inglês, aí pelos idos de 1860, deu ênfase a uma afirmação, que já outro gigante da filosofia, Aristóteles, dela tratara, afirmação que embora seja lugar comum, vale pela sua evidenciação, da verdade cristalina, de que "nada pode sair do espírito sem que antes nele tenha entrado". Contrariar isso é rematada sandice. O mestre, para nós, o mestre dos mestres, Luiz de Mattos, dera os fundamentos de toda essa problemática com aquela verdade basilar, indelével eterna de que "as leis que regem o universo são naturais e imutáveis e a elas tudo está sujeito". E dentre essas leis a primacial é a de causa e efeito. É, pois, o Racionalismo Cristão um código de normas, princípios emancipadores da humanidade, libertando-as dos erros e vícios e do escravizante misticismo, o pai de todos os outros. Enfim, afora isso, tudo mais é farsa, lenda e empulhação.
O autor é Diretor Procurador da Casa Chefe
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