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A verdade transcendental sustentada nas leis naturais

Caruso Samel

Devemos considerar a verdade sob dois aspectos ou pontos de vista diferentes: o aspecto transcendental e o aspecto terra-a-terra de nosso cotidiano. Tratamos, primeiro, da verdade transcendental. Na próxima edição cuidaremos da verdade terra-a-terra.
Verdade com V maiúsculo não é uma abstração; está consubstanciada nas leis naturais e imutáveis que tudo regem no Universo, constituindo essas os seus pilares, as reais bases de sua sustentação. Todo pensamento ou toda ação dele decorrente, que está em conformidade com as leis naturais e morais universais, isto é, em consonância com a harmonia e a ordem universal, reflete e constitui a Verdade e, portanto, caracteriza o que é verdadeiro, real, fiel e certo. Assim, a Verdade, que representa a Verdade Total e Absoluta, é a vontade unificada da Força Criadora ou de Deus, para usar a terminologia terra-a-terra das religiões. Nesse conceito amplo e geral, a Verdade é a lei de Deus.
Ainda sob o ponto de vista transcendental, a Verdade é absoluta e indestrutível e, portanto, eterna, como também o é o espírito humano, já que ambos derivam de uma única fonte: a Força Criadora. Daí poder-se concluir que a Verdade é uma das metas da evolução humana e assim também a Perfeição e o amor elevados ao seu mais alto grau.
Só a Verdade libertará o homem, já dizia Jesus, o Cristo, há 2 mil anos. Para alcançá-la e vibrar em harmonia com ela, terá a criatura que se desfazer do mal da ignorância, isto é, precisa conhecer-se a si mesma como constituída de Força e Matéria, de espírito e corpo, e conhecer os reais valores da vida. Objetivamente, a Verdade consiste em pensar que as coisas são o que são na realidade, sem qualquer esforço ou tendência para distorcê-la, escamoteá-la ou ocultá-la.
Conhecerá a Verdade quem souber usar a razão e o pensamento voltado para o bem, sem procurar "tapar o sol com a peneira", como diz um ditado bem popular.
Todo o objetivo da Filosofia está no culto da Verdade, na sua busca incessante por meio da Razão e da Lógica. É a certeza desenvolvida através de nossa inteligência, da lógica e da razão que nos leva à plena evidência do que é, de fato, o conhecimento da Verdade.
A Verdade é uma só, impera absoluta através dos tempos, em todas as raças, em todos os povos da Terra, sem fronteiras. É um denominador comum transcendental.
Não é difícil perceber que as criaturas estão sempre adquirindo conhecimentos. Conhecer é aprender a Verdade ou parte dela, discernindo o certo do errado; ao contrário, ignorar é não perceber a Verdade, é não distinguir o certo do errado e o bem do mal. Adquirir conhecimentos é saber, é aprender a realidade; não permanecendo nenhum questionamento, dúvida ou incerteza. De início, esse aprendizado é feito pela observação, usando-se nossos sentidos básicos, e segue desenvolvendo-se com o uso da razão e da lógica.
O aprendizado continua por toda a existência da criatura, passando da observação à conclusão sobre todo e qualquer assunto de nosso interesse. Se a criatura for educada nas escolas, poderá e deverá passar da observação à leitura de bons livros, acelerando, assim, através do raciocínio, o processo do conhecimento. É pelo estudo e pelo raciocínio que a criatura se esclarece e alcança maior evolução, aprendendo a Verdade e dissipando as trevas da ignorância.
O sofrimento também leva as criaturas ao conhecimento, mas este é sempre o caminho mais doloroso, mais difícil e mais longo, e as pessoas inteligentes devem evitá-lo, já que ele provém do erro voluntário ou involuntário, que sempre precisa ser corrigido, evitado ou resgatado.
A criatura, com a educação e o desenvolvimento intelectual, emocional e moral, vai-se aperfeiçoando, captando aqui e ali, através de suas andanças e vivências, fragmentos de Verdade, que no seu conjunto vão formando o seu acervo cultural, de acordo com o seu grau de evolução.
É através de numerosas e sucessivas encarnações que seus conhecimentos vão aumentando e sua conduta moral vai-se aperfeiçoando pela depuração dos sentimentos até se enquadrar definitiva e peremptoriamente nos ditames da Moral Universal, quando, então, estará preparada para prosseguir sua evolução em outros níveis, em planos astrais superiores.
Conforme afirmamos, a Verdade Absoluta emana diretamente da Força Criadora (Deus dos religiosos e místicos), sendo, portanto, um valor absoluto e eterno. Esta é a visão e concepção essencialmente espiritual da Verdade. Aqui na Terra estamos presos às limitações de espaço e tempo, e por isso temos que nos socorrer da Lógica e da Razão. Mas, se nossa mente e nossa inteligência, nos momentos de paz, tranqüilidade e introspecção, fizerem um esforço para penetrar além da realidade sentimental e visível, poderemos devassar o que está além da mente e da matéria, pois somente o espírito poderá alcançar as mais altas regiões do espaço, onde espaço e tempo se confundem, são uma coisa única.
Ao fazermos isso, estaremos dando lugar ao conceito que diz que a idéia segue o rumo do ideal, pois a Verdade com V maiúsculo é a idéia suprema da Realidade Total, alcançável mediante a apreensão máxima das idéias humanas na rota do infinito e da eternidade. Trata-se, aqui, de fundir o poder do pensamento com a força da imaginação criadora do ser humano. Através dessa introspecção, oscilando entre o infinitamente pequeno e o infinitamente grande, compreenderemos a relatividade de nossos conhecimentos, mas acabaremos por reconhecer a rota e o rumo da evolução em busca da Unidade Absoluta, que alguns pesquisadores da atualidade já denominaram de Grande Atrator (termo extraído da conferência de Rupert Sheldrake, bioquímico e filósofo, proferida na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, em 29/8/98), para onde converge toda a evolução. Suas investigações levaram-no ao destino da evolução, mas não a sua origem que, para nós, espiritualistas cristãos, é a mesma coisa, pois a vida em suas infinitas manifestações é animada por partículas inteligentes provenientes da própria Força Criadora.
Qualquer pessoa de razoável cultura poderá perceber que a criatura está sempre a buscar a Verdade das coisas e dos fatos e que essa busca é incessante, na maior parte das vezes, de natureza utilitária. Mas a pesquisa pura e especulativa, reunindo vários ramos da ciência, é cada vez mais complexa e não tem uma finalidade utilitária, mas de saber e conhecer os mecanismos da vida e explicar a evolução. Não basta conhecer e aplicar a lei de causa e efeito; é preciso mergulhar mais fundo, se quisermos um dia desvendar de onde viemos, o que realmente somos, o que estamos fazendo aqui e para onde vamos. Para isso, teremos que usar outros métodos investigativos que nos levarão a uma verdade superior, que poderá explicar o verdadeiro sentido da vida, que provém da Força Criadora do Universo, no qual a Terra se insere como um simples grão de areia.
Filosoficamente falando, o homem tem que viver sempre sob os ditames da Verdade, da Ordem e da Disciplina, estas últimas, filhas diretas da Moral Universal. Para isso, terá que se libertar do medo, do misticismo e das crenças religiosas que dominam sua consciência e liberdade.
Nós estamos falando aqui da liberdade consciente, conduzida pelo livre-arbítrio do ser consciente e esclarecido, isto é, aquele que assume a responsabilidade do que faz, e só o faz dentro do direito, da lei, da justiça e da moral. Dentro desses princípios teremos o homem moral superior, capaz de colocar-se em sintonia com o Grande Todo, de conhecer-se a si mesmo como Força e Matéria e saber que tudo no Universo está submetido às leis naturais e universais, que são eternas e imutáveis e das quais sabemos apenas uma pequena fração, somente aquelas que se aplicam à matéria propriamente dita, organizada ou bruta e, um número bem menor ainda aplicável à energia e suas transformações.
Quando o homem perceber, como uma pequena minoria da humanidade já percebe, que tudo que conquistamos nos vem de fora, pelo uso e através da intuição consciente e inconsciente, quando conseguirmos consolidar todo esse conhecimento reconheceremos que o grande repositório de sabedoria não se encontra na Terra, pequenino planeta perdido na imensidão universal do espaço e na eternidade do tempo. Será preciso estudo, muito estudo racional e crítico, para podermos realizar esse monumental passo adiante no conhecimento de nós mesmos.
A Verdade tem que ser entendida ao mesmo tempo como ponto de partida e ponto de chegada, pois se a premissa for falsa (ponto de partida), a conclusão não será verdadeira (ponto de chegada). Este mesmo conceito aplicado à extensão da vida terrena nos leva a meditar sobre a preocupação dos homens, que se concentra demasiadamente sobre o fim da existência terrena (a finitude ou morte) e deixa analisar o seu início, que ocorre com o nascimento da criatura. Preocupa-se com o que ocorre com a vida após a morte, vale dizer, para onde vamos, e deixa de indagar o que ocorre com a vida antes do nascimento, isto é, de onde viemos. E isto porque a vida não pode provir da matéria, como também não pode provir do nada. Trata-se de determinar a causa e o efeito do fenômeno vida-morte-vida.
Não conheceremos a verdade sobre nós mesmos (de onde viemos, o que estamos fazendo aqui e para onde vamos) enquanto esta questão não for conhecida pela ciência oficial e pelas religiões. Enquanto as religiões negarem a evolução ou não a admitirem, prevalecerão as crenças na salvação, na ressurreição dos corpos e toda sorte de crendices que subjugam as mentes da grande maioria das criaturas, por interesse de uns e por comodidade ou indolência de muitos que não querem raciocinar sobre as coisas sérias da vida.
Estou convencido de que somente dentro da razão e do bom senso, utilizando os recursos da inteligência e da intuição, o homem, firmado nos atuais conhecimentos da psicologia e do espiritualismo científico, poderá chegar à Verdade. Somente o critério racional fará a distinção entre o erro e a verdade, no sentido estrito, e, no sentido amplo, as idéias universais ou gerais são as que convêm a cada um de nós e a todas as criaturas e representam todas as coisas, simples ou complexas, nas suas diversas modalidades necessárias para o seu perfeito conhecimento.
Pelo que ficou exposto, a ignorância - e não a mentira - é o oposto da Verdade. A mentira é apenas a sua negação ou ocultação. Daí ter que se dar combate sem tréguas ao mal da ignorância. Esse é o maior mal que assola a humanidade, e todos, sem exceção, devem empenhar-se por debelá-lo definitivamente do seu viver. A mentira deve ser considerada como vício de caráter e se agrega a outro tipo de mal, representado pelos sentimentos negativos, que, no seu conjunto, negam a verdade. É óbvio que os sentimentos negativos são numerosos e precisam ser vencidos e estirpados durante o processo evolutivo, depuração essa que se processa muito lentamente através de numerosas encarnações.

(O autor é militante na Filial Butantã, São Paulo, SP)


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