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Desassossego e apreensão

Maria Cottas

Estamos atravessando uma época de desassossego e apreensões. Foi-se a nossa tranqüilidade, aquela vidinha boa em que os dias corriam serenos e calmos. Toda mãe de família se sentia segura, principalmente se era boa e zelosa, porque sabia que os princípios educativos que transmitia a seus filhos encontravam eco em seus espíritos, pois a corrupção não era em tão grande escala e o ambiente em que eles viviam não era tão perigoso. Hoje, porém, toda mãe se sente em sobressalto e nem sabe como falar aos filhos.

Há um mês, fui convidada para um chá que reunia diversas senhoras, e nesse ambiente social discorreu-se sobre as dificuldades que assoberbam as mães de hoje na sociedade atual ante tanta infelicidade, como assaltos, seqüestros, com o fito de salvar-se a mocidade dos vícios e entorpecentes a que se entrega.

Nessa reunião, assim se manifestou a Sra. Lizette Tacla, poetisa, culta e conceituada na colônia portuguesa do Rio: "Minhas queridas amigas, quero aproveitar o ensejo de tê-las, aqui, reunidas nesta tarde, para lhes dizer algo que desejava há muito tempo.

Penso que, como eu, vocês devem andar com o coração apertado, sentindo a insegurança e a incerteza do amanhã, neste mundo atribulado em que vivemos.

Estamos assistindo à falência de tudo o que representa valor humano: moral, justiça e respeito mútuo.

Como mães que somos, cada dia nos sentimos mais angustiadas, mais intranqüilas, mais aflitas. Lembrei-me, então, de reunir um grupo de amigas como vocês, amorosas e esclarecidas, para debatermos juntas algo que tanto interessa a todas nós.

Vocês sabem que a união faz a força. Todas vocês estão lembradas dos dias aflitivos que passamos não há muito tempo, nos meses que antecederam a revolução de 1964. Diariamente, acordávamos sem saber como terminaria o nosso dia; tínhamos a impressão de estarmos sobre um vulcão prestes a explodir. E o que vimos? A mulher, neste caso, a valorosa mulher brasileira, deixar os seus afazeres e as suas distrações e, unidas, conscientes da força da sua fé, sair em passeatas memoráveis.

Agora, o inimigo usa novas táticas, são outros os meios, mas conseguiu novamente banir a paz do coração de todas as mães, levar a ansiedade a todos os lares.

O mal não é nosso, é mundial."

E, assim por diante, fez uma expressiva palestra que seria longo transcrevê-la toda, mas que muito me agradou por ver que nem tudo está perdido no mundo, pois, mais adiante, disse: "É preciso ‘arregaçar as mangas’ e sair do nosso comodismo, esquecendo as convenções sociais, e pensar mais no amanhã que será alegre e radioso, se nos esforçarmos nesta campanha de moralização de usos e costumes."

Acrescentou também a Sra. Lizette: "Vamos juntar a nossa pedrinha na construção de um Mundo Novo, de uma humanidade melhor!" Realmente, "a nossa responsabilidade é grande, pois da má orientação recebida no lar, ou da falta dela, é que muitas vezes nascem os desajustes sociais de tantas criaturas".

Aproveitando essas festas de encerramento do ano e a entrada de 1971, desejo a todas as mulheres do mundo Terra paz e tranqüilidade, e que o exemplo dessa senhora seja imitado, pois não falta à mulher brasileira valor para lutar contra os males que vêm afetando a família de uma maneira inquietante.

É preciso que ‘arregacemos realmente as mangas’ e que saiamos do comodismo para salvar nossos filhos, netos e bisnetos, procurando para eles um mundo mais humano.

Do livro Crônicas oportunas


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