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O que é QI? Como atua a inteligência emocional?

Juarez Moura

Normalmente, recebemos nosso primeiro teste de QI, às vezes, o único, na escola. O poder de previsão do QI é encontrado, primeiramente, nas notas escolares. Nossos professores sabem qual é o nosso QI, mesmo quando nossos pais - e até nós mesmos - o ignoram. Para começar, o teste de inteligência foi criado para o critério de realização educacional e posto à prova, segundo esse critério. Mas, apesar de todas essas conexões, QI e educação são apenas correlacionados, e não idênticos. Como o objetivo original do teste de QI era ser uma medida de potencial acadêmico - e não apenas de desempenho - era inevitável alguma divergência. As correlações entre os testes de inteligência padrão - em outras palavras, o QI - e as notas escolares estão no limite médio, mais ou menos, 0,5, considerável, mas não avassalador. Usando-se os testes de inteligência com maior ênfase nas capacidades verbais, em lugar do QI comum, e os testes padronizados de realização escolar, em lugar das notas dos professores, a correlação pode atingir até 0,8. O aumento não deveria surpreender, pois as notas dos professores não estão tão rígidas ou, seguramente, focalizadas no que é puramente acadêmico, tal como acontece nos testes de realização.
As discrepâncias entre QI e as notas escolares são instrutivas, porque seguem um padrão definido. Não é apenas o fato de que o QI não é um vaticinador exato de notas, mas também o de que crianças com QI baixo quase sempre se saem mal na escola, ao passo que as que têm QI alto abrangem um limite desde excelente até medíocre. Para o trabalho escolar, como para muitos outros correlatos do QI, a inteligência é necessária, mas não suficiente. Em outras palavras: um QI baixo prevê mau desempenho com mais segurança do que um QI alto prevê bom desempenho.
A inteligência pode estar subindo ou descendo por razões ambientais de uma relação para outra, a despeito da elevada hereditariedade. Diz-se, por exemplo, que a estatura está aumentando, provavelmente devido à alimentação e à medicina, mesmo com sua hereditariedade de 0,95. Podemos dizer facilmente se tem havido mudança em estatura, pois as medidas são absolutas e há a evidencia palpável das roupas, móveis, caixões e os próprios esqueletos. Contudo, para a inteligência, não temos escalas absolutas, apenas relativas, e os restos palpáveis da inteligência desafiam a interpretação. Mas, se a estatura mudou, por que não a inteligência? Afinal de contas, poder-se-ia afirmar que o QI tem hereditariedade de apenas 0,8, talvez mesmo 0,7, mensuravelmente inferior à de estatura, de modo que ele deveria ser ainda mais susceptível à influência do ambiente.
Indubitavelmente, isso é correto, em princípio, mas o problema prático está em encontrar as coisas certas no ambiente para mudar, as coisas que nutrirão o intelecto, tal como a alimentação faz com a estatura. A suposição usual de que a educação e a cultura são críticas está colidindo com a evidência de que o ambiente físico - a alimentação nos primeiros anos, por exemplo - talvez seja mais importante.
O psicólogo e PhD Daniel Goleman, em seu livro Inteligência Emocional, diz: "Que fatores entram em jogo, por exemplo, quando pessoas de alto QI malogram e aquelas com QI mediano se saem surpreendentemente bem? Eu diria que o que faz a diferença são aptidões aqui chamadas de inteligência emocional, as quais incluem autocontrole, zelo e persistência, e a capacidade de automotivação. E essas aptidões, como vamos ver, devem e podem ser ensinadas às crianças, na medida em que lhes proporcionam a oportunidade de lançar mão de qualquer que seja o potencial intelectual que lhes tenha sido legado pela loteria genética." O autor quer dizer, com isso, que a inteligência pode ser moldada, quando se parte do pressuposto de que o fator emocional pode ser considerado um importante aliado no processo de desenvolvimento intelectual.
Em passagens do seu livro, Daniel Goleman afirma ainda: "Há muitos indícios que atestam que as pessoas emocionalmente competentes - que conhecem e lidam bem com os próprios sentimentos, entendem e levam em consideração os sentimentos do outro - levam vantagem em qualquer coisa na vida, seja nas relações amorosas e íntimas, seja assimilando as regras tácitas que governam o sucesso na política organizacional. As pessoas com prática emocional bem desenvolvida têm mais probabilidade de se sentirem satisfeitas e de serem eficientes em suas vidas, dominando os hábitos mentais que fomentam sua produtividade; as que não conseguem exercer nenhum controle sobre sua vida emocional travam batalhas internas que sabotam a capacidade de concentração no trabalho e de pensar com clareza".
"Na medida em que nossas emoções atrapalham ou aumentam nossa capacidade de pensar e fazer planos, de seguir treinando para alcançar uma meta distante, solucionar problemas c coisas assim, estão definindo os limites de nosso poder de usar nossas capacidades mentais inatas, e assim determinam como nos saímos na vida. E na medida em que somos motivados por sentimentos de entusiasmo e prazer no que fazemos - ou mesmo por um grau ideal de ansiedade - esses sentimentos nos levam ao êxito. É nesse sentido que a inteligência emocional é uma aptidão mestra, uma capacidade que afeta profundamente todas as outras, facilitando ou interferindo nelas".
"Num certo sentido, temos dois cérebros, duas mentes - e dois tipos diferentes de inteligência: racional e emocional. Nosso desempenho na vida é determinado pelas duas - não é apenas o QI, mas a inteligência emocional que conta. Na verdade, o intelecto não pode dar o melhor de si sem a inteligência emocional".
Chegamos à conclusão de que a busca do ideal igualitário de inteligência é uma constante ao longo da história humana, não importando as eventuais e, às vezes, dramáticos fracassos para atingi-lo.
A essência dessa busca - e não as vicissitudes por que passa - é que define a história do homem como alguma coisa mais ampla e mais profunda que o mero desenrolar de fatos e de incidentes no espaço e no tempo, a que assistiram, passivamente, os indivíduos e os grupos sociais. Por isso mesmo é que o homem se revela, no processo incessante dessa luta, como o fator que se desloca da natureza para o âmbito flexível e criador da história e da cultura.

(O autor é freqüentador da Filial Belo Horizonte, MG)


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