Se nos detivermos a pensar nestes dois títulos,
eles nos mostram a sua complexidade, mas também nos sugerem a sua
semelhança, mostrando-nos como ambos estão interligados:
Primavera - Verão - Outono - Inverno
Infância - Mocidade - Madureza - Velhice
É "Primavera", o perfume paira no ar, sua fragrância
nos deleita, submetendo nossos rostos a uma imagem mais suave, onde
se percebe a esperança num novo advir, com a chegada da cálida
estação que ora começa. As árvores cobrem-se de folhagem, que
suavemente nos embalam, transmitindo-nos paz e bem estar. No vento
fresco da manhã, as gotas de orvalho caindo, embelezam os botões
que se abrirão em lindas e coloridas flores, legando-nos mais tarde
os frutos que saciarão nossa sede, nossa necessidade de nos
alimentarmos, para continuarmos em frente.
É como a "Infância", a primeira fase da vida, em que
o ser vai tomando consciência de si mesmo, aprendendo a ser
auto-suficiente, a abraçar, em suave enlace, a sua própria vida,
preparando-se para se dar, e entregar aos outros os frutos que
conseguir fazer vingar. Cabe aos pais e educadores, tal como aos
plantadores e agricultores, a vigília permanente, para que o fruto
não seja picado, molestado por qualquer doença, e possa vingar com
todo o viço e cor.
Chega o "Verão", e, com ele vem a fartura, os frutos
que precisaram de mais tempo para se formarem e amadurecerem.
Aparecem as epidemias, que precisam ser combatidas para que não
estraguem, mais tarde, as colheitas que se desejam boas e fartas.
Chegam muitas vezes os fogos florestais, uns pela própria natureza,
que nos traz um imenso calor e propicia o propagar dos mesmos,
trazendo a destruição e calamidades de toda a ordem. Outras vezes
o Homem, ainda em estado irracional, acende ele mesmo esses fogos,
destruidores de cultivos, de gente, de bens de toda a ordem,
empurrando para frente um imaginável longo comboio de destruição
maciva.
Lembra-nos a "Mocidade", essa fase em que tudo pode
acontecer. Se a infância foi profícua, bem velada, bem instruída,
o ser, com sua mente bem esclarecida e aberta, consegue vencer
tempestades de toda a ordem, evitando ainda que outros as sustentem.
Os ensinamentos colhidos, serão por eles transmitidos, em maior
abundância ainda, pela força do exemplo. Que bom que esses,
conscientes dos valores morais que devem ter, possam ser amanhã os
Dirigentes de Nações, com novas formas de conduta, novos caminhos
traçados, rumo a novas eras, numa seqüência de gerações, cada
vez mais aprimoradas, rumo a novos horizontes, que tornem este Mundo
melhor, mais compreensivo, mais tolerante, mais justo, mais adulto.
É agora a vez do "Outono", e olhando em nosso redor,
vemos que a natureza chegou a um novo estado, as frondosas árvores
despem-se de folhas, o céu enche-se de nuvens, umas mais claras,
outras mais escuras, anunciando a proximidade das primeiras chuvas.
Há quadros de diversa ordem. Uns que nos transmitem paz,
recordações agradáveis, quando olhamos o céu azul ou mesmo com
nuvens claras, no crepúsculo de um final de tarde, junto ao mar ou
a um lago, vendo o sol a pôr-se no horizonte, e, seus raios
refletindo-se e avermelhando o céu por entre as nuvens. Há sempre
uma notável beleza, quando vimos a natureza, no seu imenso e
natural esplendor, deixando-nos navegar na imensidade do nosso olhar
fixo na linha do horizonte. Vêem-se entretanto outros quadros, que,
embora nos mostrem as folhas caídas e amarelecidas pelo passar do
tempo, nos transmitem, à mesma, recordações boas, um sentimento
de bem-estar. Ora sentados num banco de jardim, ora passeando à
beira-rio ou à beira-mar, sobre uma ponte ou apenas numa estrada
despovoada, olhamos para o chão, pisando as folhas, em diversas
cores, mas que nos fazem lembrar a estação fértil que passou. É
que também é necessária a que está a decorrer, para que o
Inverno chegue mais tarde, trazendo-nos novamente a chuva benfazeja,
e, tão necessária à renovação das plantas, das árvores, das
searas. Há, contudo, quadros de difícil descrição, pela
violência das imagens, das cores nelas contidas, que nos transmitem
desolação, tristeza por aquilo que outros fizeram, sem
considerarem o trabalho que os mesmos tiveram para conseguirem obter
o que eles, por crassa ignorância, destruíram numa vertiginosa
corrida contra o seu próprio progresso e o bem estar dos que
trabalharam pelo bem geral da humanidade, lutando por todos, e, por
um patrimônio que desejavam legar aos seres vindouros. Alguns
desses quadros poder-se-ão simbolizar pelo amontoado de folhas
caídas, já meio apodrecidas, não varridas, não recolhidas,
misturadas com excrementos diversos, lixo de toda a espécie,
incluindo garrafas e outras embalagens abandonadas no solo, por
pessoas completamente irresponsáveis, que em nada se preocupam com
o ambiente, e que, acrescentando a lama misturada com água e outros
líquidos, exalam um cheiro nauseabundo intolerável de se inspirar.
Em tudo nos lembra o homem na sua fase "Madureza". Uns
passam por este planeta, num veículo novo, escolhido a rigor,
mediante o modelo que acharam ser o que melhor lhes serviria para a
sua evolução, e, lamentavelmente, nada adquirem para aumentar o
seu pecúlio, o seu acervo espiritual. Por descuido, por preguiça,
por vaidade, por inveja, por cegueira propositada, por ansiedade
desmedida em colherem o alheio, fazendo mal uso do seu
livre-arbítrio, querendo ganhar facilmente, extorquindo aos que com
o suor de seus rostos ganharam honestamente para, dessa maneira,
terem as almejadas vidas fáceis, que tão caras lhes irão sair ao
longo de futuras reencarnações no resgate de seus próprios
débitos. Porém, há também muitos espíritos que aproveitam,
razoavelmente, as reencarnações, e vão amealhando, grão a grão,
semente a semente, todo um patrimônio espiritual que lhes irá
servir de sólidos alicerces na construção da rampa de lançamento
para uma nova etapa. Mais raros são os espíritos que conseguem ter
uma encarnação sem falhas significativas nas suas caminhadas,
conseguindo o tão almejado troféu, traduzido pelo alcançar de um
novo degrau na escala evolutiva. Embora tenhamos a considerar que
nenhum de nós, enquanto encarnados, estamos livres de errar, pois
se assim fosse, não estaríamos neste alambique depurador. Como,
porém, o que se consegue amealhar, jamais se perderá, desde que os
erros cometidos não sejam graves, podem não interferir no seu
progresso enquanto espírito encarnado. Daí a lição de nunca se
perder a vontade de retificar seja o que for, pois sempre haverá
algo de positivo a tirar das lições recolhidas e, mesmo errando,
desde que comedidamente, poderemos evoluir. Se pensarmos, pois, no
ser que após chegar ao fim da terceira fase de sua vida, com a
consciência do dever cumprido, poderemos imaginar como se sentirá
gratificado ao descansar, ao sabor de um fim de tarde, no balanço
de um barco no meio de um lago, ou simplesmente em casa, ouvindo os
suaves acordes de uma boa música, refazendo-se para a nova
estação que se aproxima. Que agradável será poder sentar-se num
banco de jardim, aconchegar seu camisolão e sentir o fresco da
tarde que finda, enquanto vigia os netos que brincam à sua volta.
Chega enfim a última estação do ano, o "Inverno".
Ele representa o término de um ano, mas traz com ele a esperança
de um novo ano que, indiscutivelmente, todos esperam seja melhor que
o anterior. Que seja bom em chuvas caídas, que não traga
calamidades, que seja, enfim, promissor nas mais diversas vertentes.
É tempo de lançar à terra as novas sementes, que irão
desabrochar na próxima Primavera.
E, assim, queremos também fazer alusão ao "Inverno"
de nossas vidas, o qual apelidamos de "Velhice", ou seja a
nossa 4ª fase. É agora que o espírito que conseguiu manter
oleada, corretamente, sua viatura durante sua longa jornada, espera
pacientemente pelo fim da mesma. Muitas vezes com uma certa
ansiedade, a fim de conhecer os progressos conseguidos. Porém,
consciente de que quanto mais viver, mais possibilidades terá de
evoluir e continuar amealhando valores que serão de grande
importância quando seu último minuto chegar. Daí o dever de se
continuar trabalhando enquanto se puder, seja naquilo que for. Tudo
é válido, tudo traz experiência e sabedoria.
Resta-nos apenas alertar os jovens para que nunca desprezem os
mais velhos, pois eles têm a seu favor todo um percurso cheio de
lições que podem passar-lhes, ajudando-os a vencer com elas as
etapas que têm pela frente.
Aida Luz, 6 de setembro de 2003 -
Miratejo - Portugal