Afinidades
Texto de Arthur da Távola
colaboração de Ingebourg Georg
Afinidade é um dos poucos sentimentos que resistem ao tempo e
ao depois.
A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante
dos sentimentos.
É o mais independente também.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as
impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a
conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido.
Ter afinidade é muito raro.
Mas, quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante, e permanece depois que as
pessoas deixaram de estar juntas.
Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que
impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras. É receber o que vem do outro com
aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é sentir com,
Não é sentir contra,
Nem sentir para,
Nem sentir por,
Nem sentir pelo.
Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo, é olhar e
perceber.
É mais calar do que falar, ou, quando é falar, jamais explicar: apenas
afirmar.
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.
É conversar no silêncio, tanto nas possibilidades exercidas quanto das
impossibilidades vividas.
Afinidade é retomar a relação no ponto em que parou sem lamentar o tempo de
separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida.
Texto de Arthur da Távola, colaboração de Ingebourg Georg, Rio de Janeiro, julho 2003
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