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O bem e o mal na jornada do espírito
"Centelha" do Grande Foco

José Maurício Kimus Dias

Acredito que o bem e o mal são, acima de tudo, conceitos complexos, interpenetráveis e complementares. Existe uma reflexão de Madame Blavatsky que diz que a fronteira entre bem e mal é o fio de uma navalha. Acho que nossa estrutura humana é dual por natureza e essência. Assim estamos condenados a conviver com esse fio da navalha (bem/mal). Devemos ter como tarefa aprender a discernir entre os dois. Devemos reconhecer que ambos são relativos e passageiros e que a última de todas as verdades é feita só de bem. Um bem que nossa mera condição humana não permite sequer o mínimo vislumbre. Todos espíritos passam pela longa estrada da ignorância para chegar ao bem.Os espíritos foram criados simples e ignorantes, mesmo sendo essência da perfeição do Grande Foco. É preciso que o espírito ganhe experiência, então, é preciso que ele conheça o bem e o mal.
Compreender a essência do Grande Foco e seu planejamento cósmico exige de nós, seres humanos encarnados e desencarnados, muito desprendimento espiritual, sabedoria e muito equilíbrio. Estudar para tentar entender o Criador e suas Leis Universais faz com que alcancemos vôos mais altos e verdadeiros em relação a nossa interpretação sobre as suas criações, mesmo sabendo que as experiências que adquirimos neste planeta que vivemos ainda é muito ínfima perante a realidade cósmica.
Quando saltamos como "fagulhas" ou "centelhas" desta Grande Luz Criadora, somos iguais sementes de paina, da árvore paineira. Faço esta analogia porque aqui em Teresópolis têm muitas destas árvores. Quem tiver a oportunidade de apreciar um dia, repare que o fruto maduro se abre e faz planar para bem longe suas sementes para que possam germinar em outras terras. Comparo estas sementes de paina como estas energias (centelhas) que se transformam em espíritos no ser humano, ela permanece vitalizada pelo Grande Foco e na vida íntima de cada ser. À medida que o espírito amplia sua consciência, ele também abrange maior área de entendimento do Cosmo e com isso da criação e da Força Criadora. Ainda que a semente possua em sua memória potencial as qualidades próprias do vegetal que irá germinar e crescer, ela não tem condições ainda que permita definir antecipadamente a grande "árvore-mãe". Tão logo esta semente comece a desabrochar e crescer, vencendo os obstáculos da vida, ela vai tomando consciência do todo. A caminhada é longa onde o "mal" e o "sofrimento" são as etapas do mesmo processo de evolução, cuja ação é passageira e tende sempre a um resultado positivo e superior para o espírito (energia em evolução).
Como dizia Hercílio Mães [1]: "Podemos pensar que é um mal a agressividade dos parasitas com árvores na sua luta para crescer, porém, isto tudo não passa de elementos que interferem e obrigam a árvore a maior concentração de energias íntimas na defesa, culminando no sucesso do seu próprio desenvolvimento. O mal é uma necessidade neste progresso evolutivo "negativo" que perturba, mas se corrige, "prejudica" e depois compensa, e que desaparece quando o espírito vai firmando a contextura de sua consciência superior. Os atos são considerados "malignos", porque eles causam prejuízos a outrem, mas se a vítima é ressarcida vantajosamente no curso de sua própria imortalidade, então desaparece o estigma detestável do 'mal', que é compensado pelo 'bem' mais breve a que faz jus pelo seu sofrimento".
Cita Fernando Faria, em seu livro A chave da sabedoria [2]: "Quanto ao nascimento da Partícula Inteligente, até o nosso presente estado evolutivo, não temos ainda discernimento suficiente para responder com precisão se nascemos no momento em que saltamos da grande fogueira. Contudo, podemos dizer que a Partícula Inteligente, simples e ignorante, ainda não individualizada, está contida no âmago da Força e será forçada pela lei natural a saltar do seio materno, quando estiver preparada, quando estiver madura para iniciar, por conta própria, a sua autoconstrução, em busca de realizar-se como espírito. Precisa inicialmente do caminho oferecido pela Matéria para chegar ao objetivo de ser Espírito. Atingida essa etapa, como nós nos encontramos agora, o objetivo será, então, nos livrarmos do instinto da adoração, dos atrativos da vida material e iniciarmos um profundo estudo para aprendermos a viver no mundo espiritual".
Brian Weiss [3]: "... É como que cada pessoa neste planeta fosse um grande diamante. Imagine um grande diamante de 30 centímetros e mil facetas, cobertas por pó e breu. Limpar cada uma delas é tarefa da alma, até que a superfície brilhe e possa refletir um arco-íris. Agora, uns limparam várias delas e estão brilhando, outros, somente algumas, então não brilham tanto. Mas sob a poeira, cada ser humano é uma centelha Divina, este diamante com centenas de facetas cintilantes. O diamante é perfeito, sem falhas. A única diferença entre as pessoas é o número de facetas limpas, mas cada diamante é o mesmo e todos perfeitos. Quando todas as facetas estiverem limpas e brilhando num espectro luminoso, o diamante voltará à energia pura de onde se originou. A luz permanece. É como se o processo de produzir um diamante se invertesse, libera toda pressão. A energia pura existe no arco-íris das luzes e estas possuem consciência e conhecimento e todos diamantes são perfeitos".
Khalil Gibran [4]: "... E um dos anciãos da cidade perguntou: "Fale-nos do bem e do mal?" "E ele respondeu": "Do bem que está em vós, poderei falar, mas do mal. Pois que é o mal senão o próprio bem torturado por sua fome e sede? Em verdade, quando o bem sente fome, procura alimento até nos antros escuros, e quando sente sede, desaltera-se até em águas estagnadas. Vós sois bons quando vos identificais com vós mesmos. Mas não sois maus quando deixais de vos identificar com vós mesmos. Pois a casa que se divide não se torna antro de ladrões: é, apenas, uma casa dividida. E um navio sem leme pode vaguear sem rumo entre recifes perigosos, e não afundar. Vós sois bons quando vos esforçais por dar de vós próprios. Mas não sois maus quando vos limitais a procurar o lucro. Pois quando lutais pelo lucro, sois simplesmente raízes que se agarram à terra e lhe sugam o seio. Certamente, a fruta não pode dizer à raiz: 'sê como eu, madura e plena, e generosa de tua abundância'. Pois, para a fruta, dar é uma necessidade como, para a raiz, receber é uma necessidade. Vós sois bons quando falais plenamente acordados. Porém, não sois maus quando adormeceis enquanto vossa língua tartamudeia sem propósito: Mesmo um discurso gaguejante pode fortalecer uma língua débil. Vós sois bons quando andais rumo a vosso objetivo, firmemente e com passos intrépidos. Porém, não sois maus quando ides coxeando: Mesmo aqueles que coxeiam não andam para trás. Mas vós que sois fortes e velozes guardai-vos de coxear por complacência na presença dos coxos. Vós sois bons de inúmeras maneiras, e não sois maus quando não sois bons: Estais apenas ociosos e indolentes. Pena que as gazelas não possam ensinar a velocidade às tartarugas! Na vossa ânsia pelo nosso Eu-gigante está vossa bondade; e essa ânsia está em todos vós. Mas em alguns, essa ânsia é uma torrente que se precipita impetuosamente para o mar, carregando os segredos das colinas e as canções da floresta. Em outros, é uma corrente preguiçosa que se perde em meandros e serpenteia, arrastando-se, antes de atingir a costa. Mas que aquele que muito deseja se guarde de dizer àquele que pouco deseja: 'Por que és lento e atrasado?' Pois o verdadeiramente bom não pergunta ao desnudo: 'Onde está sua roupa?' nem ao desabrigado: 'Que aconteceu à tua casa?'".
Forças Opostas e Complementares: Foi criada na China, por volta de 700 anos A.C., uma teoria que fala sobre a Polaridade Universal e seus conceitos básicos. Isto encontra-se registrado no mais antigo livro originário do Extremo Oriente, "O Livro das Mutações", I Ching. Os chineses observaram que tudo no universo podia ser classificado em categorias distintas, embora interligadas, o que deu origem à teoria do Yin Yang, os "Opostos Complementares", que é utilizada em toda a filosofia chinesa na observação e análise do mundo. Todos os fenômenos e estados dos seres e coisas podem ser analisados por ela. Para a cosmologia chinesa, o mundo antes de sua formação era somente Energia Vital. Porém, sob o efeito de transformações das forças centrífuga e centrípeta, esta massa se polarizou, gerando o yin e yang, a raiz e o começo da vida e da morte (Tao). Todos os aspectos do mundo material apresentam fenômenos duais. Que representam forças opostas e complementares. Com base nessa dialética dos opostos, ao mesmo tempo complementares, que se "consomem" e se "suportam" mutuamente, nascem todos os ciclos cósmicos: o escuro e o claro; a noite e o dia; o frio e o calor; a quietude e o movimento; a terra e o céu; o movimento descendente e o movimento ascendente; o interno e o externo; a contração e a expansão, o bem e o mal e assim por diante. Nenhum componente existe em estado absoluto. Não existe um sem o outro, pois ambos se encontram em uma relação constante de interdependência. Eles não são estáticos, mas sim permanentemente dinâmicos, se uma cresce a outra diminui, se uma avança a outra retrocede, de maneira a manter um equilíbrio dinâmico para assegurar o desenvolvimento e as mudanças normais dos fatos ou fenômenos.[5]

Comentários Finais

Acredito que o Grande Foco pôs o remédio ao lado do "mal", fazendo com que do próprio mal saia o remédio para a sua cura (o bem), como na teoria da homeopatia, com isso, o excesso do mal moral, quando se torna intolerável, impõe ao homem a necessidade de melhorar-se. É essa necessidade que o constrange e o faz procurar o bem, usando de seu livre-arbítrio, como maneira de melhorar as condições existenciais. Tudo que nós podemos aprender e sentir enquanto encarnados aqui Terra, este planeta-escola, nos leva a crer que o Grande Foco nos fez do jeito que somos para ter o poder de modelarmos o nosso futuro. O mal gera o sofrimento que é desagradável, mas o sofrer educa e faz com que nos esforcemos no trabalho de nosso desenvolvimento adquirindo harmonia e confiança nos dignificando e nos orientando no caminho do bem. Acredito que um dia poderemos ver o mundo de hoje e compreender que o bem e o mal e as impressões que temos do Mundo em que vivemos, será de uma maneira muito mais natural do que hoje, pois, a Força Criadora mantém tudo sob controle e tudo está certo como está. Michelangelo dizia: "Concentra-te e faze como o escultor faz à obra que quer aformosear. Tira o supérfluo, aclara o obscuro, difunde a luz por tudo e não largues o cinzel".
Todos os dias nós somos expostos às manifestações da nossa natureza má e inferior, pois, como podemos ver, ela faz parte da nossa longa caminhada espiritual e quanto mais vamos atingindo um estágio evolutivo superior, ou seja, mais avançado espiritualmente, nosso caminho vai mudando de acordo com os projetos da Inteligência Universal, por isso, temos que seguir a nossa natureza do bem (superior) e compreendendo a finalidade do mal, pois assim estaremos sempre no caminho correto e contribuindo para que outras pessoas possam segui-los também. Se conseguirmos vencer uma só vez a nossa natureza inferior, isso não significará que a vencemos definitivamente. Mesmo que em algumas circunstâncias tenhamos conseguido vencer algumas das manifestações do mal, isso não significa que conseguimos uma vitória definitiva, pois, de um momento para outro, ela pode despertar e iniciar um retrocesso e nos atrapalhar em nosso desenvolvimento. Devemos nos esclarecer e conhecer melhor a nossa verdadeira natureza espiritual que provém da Força Criadora, com isso, os princípios de amor e sabedoria vem habitar em nosso íntimo e assim, seremos envolvidos na luz e fluidos para que possamos cumprir com nossos deveres.
Nosso espírito é nossa obra maior que ultrapassa com grandeza todas as manifestações parciais da Arte e da Ciência. Sei que muitas vezes é muito difícil, porém, podemos ter uma vida bastante feliz dentro desta dualidade entre o "bem" e o "mal", claro que é uma felicidade relativa, mas não devemos deixar de procurá-la e almejá-la, pois a vida não é somente de sofrimentos. Mas quando ele aparece, devemos entendê-lo dentro das leis de causas e efeitos e ao invés de nos lastimarmos, erguer a cabeça, olhar para frente e continuar o nosso caminho em direção a Luz.
Em tudo está gravada a sabedoria infinita onde o Universo está em constante mudança, progredindo e evoluindo sempre. Não podemos esquecer que fazemos parte deste Universo; com isso nosso espírito também tem de progredir, os males a que nos achamos expostos, mesmo que como seres humanos não o entendamos, estes são como "estimulantes" para o exercício da nossa inteligência, de todas as nossas faculdades físicas, morais e, principalmente, espirituais incitando-nos a procurarmos os meios de evitá-los e aprender com eles. Se nosso espírito não conhecer o bem e o mal, nenhuma necessidade haveria de o induzir a procurar o melhor; nosso espírito ficaria paralisado pela inatividade, nada inventaria, nem descobriria. A dor é o que nos impulsiona para frente, na senda da evolução espiritual. Achar que o espírito tenha saído perfeito das mãos do Criador acho que é um erro, acredito que a perfeição resulte da depuração gradual do Espírito. O Grande Foco criou esta energia para que um dia depois, de uma certa maneira, amadurecida, ela pudesse, ser portadora do livre-arbítrio e pudesse optar e aprender com o "bem" e o "mal" e chegasse a suas finalidades últimas confundindo-se com o Todo.

Bibliografia:

[1] Hercílio Mães. A Vida Humana e o Espírito Imortal.
[2] Fernando Faria. A Chave da Sabedoria.
[3] Brian Weiss. Muitas Vidas, Muito Mestres.
[4] Gibran Khalil Gibran. O Profeta.
[5] Dr. Jou Eel Jia. Medicina Chinesa - Acupuntura e Fitoterapia e Terapias do Movimento. Ed. Caras.

Teresópolis RJ, junho de 2004

 

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