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A razão dos crimes - I

Julio Cesar do Nascimento

Vimos, recentemente, correr o mundo e reverberar em maior ou menor grau nas pessoas, contristando seus espíritos, crimes contra a pessoa, crimes contra a humanidade e crimes contra o patrimônio. Em tudo o que sucede em nossa volta há razões e ensinamentos a colher. A percepção de que os fatos que atingem uma pessoa, ser vivente e mesmo o ambiente, afeta os demais é hoje facilitada pela interdependência econômica e pela evolução da consciência, que faz com que muitos sejam solidários com o estado de dor moral ou física, que atinge outros seres. Ainda que esta dor não se faça sentir de pronto em todos os demais. Algumas pessoas buscam agir preventivamente procurando garantir um mundo melhor e mais propício para a evolução dos seus descendentes. Mas, o que se vê como testemunho da agonia do modo de pensar e organizar a sociedade que ainda temos é uma busca de explicações e soluções para os nossos problemas, apoiadas em análises parciais e especializadas das suas manifestações e efeitos, porque muitos relutam em aceitar as verdadeiras causas, na defesa de seus interesses inconfessáveis.

A todo momento, especialistas são consultados para dar parecer sobre a razão e natureza dos fatos que demonstram o desequilíbrio do nosso modo de vida. Ações multi e interdisciplinares vêm sendo promovidas, com o intuito de aclarar o que está errado e como deveria ser para que não houvesse mais crimes ou para que estes estivessem limitados ao terreno alheio.

Para nós, agir sobre as mais diversas facetas da ação criminosa parece não surtir efeito sem que o comportamento social seja modificado e esta modificação do comportamento só é duradoura e efetiva quando precedida por uma modificação no modo de sentir e no pensamento que lhe deu origem. Ou quando sobre a ação comportamental positiva induzida e sustentada, como nas entidades de reeducação, se propicia o desdobramento intelectual dos envolvidos até que estes modifiquem os seus sentimentos, o modo de pensar e conseqüentemente as suas ações.

Estas assertivas, apresentadas de modo resumido e despretensioso, carecem de justificação e exemplos para que não haja dúvida quanto às razões que nos fazem crer nas mesmas.

Investidas policiais no campo do crime organizado reduzem momentaneamente as ações criminosas, principalmente ao restringirem a liberdade dos agentes que perpetram atos materiais. Aqueles que são os autores intelectuais se põem a salvo no emaranhado do sistema financeiro e nas corporações de fachada. E estas salvaguardas subsistem porque as instituições financeiras e os agentes do estado encarregados de fiscalizá-las não agem em conjunto, exigindo conhecer a origem deste dinheiro que ao final é o elemento de troca para todas as ações, não só as criminosas. Há notícias de países onde setores da atividade econômica, tais como a construção civil, os jogos eletrônicos e mesmo os bancos são dominados pela ação do crime organizado. E qual a nação isolada nos dias de hoje?

Em nosso país, quando menores ou adolescentes cometem crimes, dos elementares aos ditos hediondos, é na sociedade e na falta de oportunidades que esta oferece que se vai buscar atributos que justifiquem as suas faltas, ou nas famílias desajustadas que não conseguem corrigir as tendências e restringir os efeitos do meio e das más companhias. E a solução imaginada e defendida por muitos em curto prazo é lançada à sociedade como a redução da maior idade penal.

O que resulta destas práticas já imemoriais é que construímos sociedades com um discurso moral sobre bases de sustentação imoral.

A estes dois exemplos poderíamos juntar um outro número maior e bem justificado de situações, porém, para o que pretendemos demonstrar, estas situações que podemos dizer estão em pólos extremos da mesma árvore, quando tomados por grau de importância no flagelo social gerado pela ação criminosa, já bastam.

O que escapa à análise, ou tem pouca repercussão na mídia, porquanto implica no desmascarar da hipocrisia reinante, é que em vistas das implicações sociais, e podemos dizer espirituais, a ação criminosa de qualquer amplitude e monta de resultados tem origem nas mesmas faltas, quais sejam na perpetuação do raciocínio indigente e na ausência de uma visão espiritualista da existência.

De pouco adianta agir nos efeitos se não se tem em mente e se busca corrigir as causas. As ações de contenção se repetem como poda em árvores que voltam a deitar novos ramos, impulsionados pela seiva dos pensamentos egoístas e visão que se preocupam em privilegiar e enaltecer as diferenças. Diferenças que deveriam ser a nossa fonte de inspiração e troca para acelerarmos a evolução tornam-se instrumento de dominação e exploração entre os humanos.

Sem reavaliarmos as nossas bases filosóficas e morais, o que deveriam ser valores humanos e, portanto, valores espirituais, porque o homem é este composto de espírito e corpo e tem no espírito e na evolução deste a razão da sua existência e não o contrário, continua-se a buscar de forma irracional solucionar pelos efeitos o que se dá nas causas. Enquanto a ação repressiva e da força for a única alternativa social contra o crime, enquanto tolerarmos que nossos semelhantes sejam torturados por serem diferentes, e as crianças não forem educadas para pensar e compreender o mundo como uma escola de evolução espiritual, contra o "Deus" injusto que propicia a alguns todas as glórias e oportunidades e a outros a servidão e a miséria, muitos estarão por revoltar-se e na sua revolta insana a angariar mais crimes e faltas para resgatar em outras encarnações, até que cataclismos e guerras venham a arrebatar milhares de sofredores para retomarem o ciclo evolutivo noutros mundos. O que resulta desta situação de descaso pela vida espiritual e suas leis é o retardo na evolução de todos.

A globalização tem a virtude de acelerar a compreensão das injustiças, da insanidade do modelo social atual e da responsabilidade aumentada de cada um na educação de si mesmo e no compromisso de espiritualização dos povos.

Nós, brasileiros, já estamos a dever a nossa lição ao mundo, porquanto permitimos que as nossas crianças se precipitem pelas ruas na miséria e indigência ou na decadência moral, e isto se dá com o concurso do povo e dos dirigentes, pois são estes que devem dar o rumo e guiar a nação na caminhada evolutiva. Na ganância e egoísmo se fazem parceiros da criminalidade, pois abandonam à própria sorte o povo que se comprometeram a conduzir. E se assim o fazem é porque a eles também falta a consciência da vida espiritual, seus misteres e compromissos.

A razão dos crimes I é, portanto, a falta de visão da vida física como uma oportunidade de acelerada evolução espiritual e para que esta visão seja propiciada, mesmo àqueles mais relutantes, advêm o sofrimento, sofrimento este que por fim afeta a todos, porque somos todos pertencentes ao mesmo grupo de "seres encarnados em evolução".

(Enviado por Julio Cesar do Nascimento, 16 de outubro de 2001)

Julio Cesar do Nascimento
16 de outubro de 2001

 

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